Antes de mais nada, antes que o espectador se choque ou simplesmente não entenda, é preciso estabelecer / reconhecer que se trata de um filme do genial Yorgos Lanthimos especialista em trabalhar focando muito humor negro, muita provocação, e surrealismos para tratar as complexidades humanas. Isto posto, sempre é bem-vindo recordar trabalhos como “O Lagosta” (comentado em 12-12-2015), “O Sacrifício do Servo Sagrado” (comentando em 16-12-2017) e “A Favorita” (análise nº 979), que lhe trouxeram respeito e notoriedade mundial.
Com sua mais que peculiar visão, Yorgos, em sua primeira adaptação, recria o romance homônimo fabricando enigmas dentro de enigmas, repleto de metáforas, transita pela filosofia e pelo existencialismo intercalando, na medida certa, o grotesco e o gótico com o sublime, utilizando-se de ângulos e lentes singulares que criam uma sensação de hipnose no espectador e, tudo isso, amplificado por uma trilha sonora destoante criada e justamente colocada para causar incômodos.
Esse vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2023 e com incríveis 11 indicações ao Oscar 2024, é mais que visualmente criativo, levando-nos para um mundo onírico que mistura fantasia futurista com composições visuais da época vitoriana onde a fotografia – inicialmente em P&B saltando para cores vívidas e deslumbrantes onde o amarelo se sobrepõe - é um deslumbre a parte juntamente com o requintado e milimétrico design de produção, direção de arte e figurinos impressionantes.
Botando em tela inúmeras questões e questionamentos que deixarei a critério do espectador captá-los, Pobres Criaturas além de seus seres híbridos centra na questão “Criador e Criatura” para através de uma excepcional personagem feminina fazer uma épica – picante e mordaz - jornada de evolução e emancipação feminina (mas também poderia ser da criança que um dia habitou em todos nós), maravilhando-se e chocando-se com o nosso dicotômico mundo, tão prazeroso quanto horroroso e sempre dependente do destino traçado pelo criador e das normas sociais ditadas pelos homens.
Com tantos temas magnificamente abordados e deslumbrantemente e imageticamente apresentados, Poor Things enseja uma segunda visita a obra para extrair ou mergulhar em tantas profundidades que podem facilmente escapar em apenas uma única vista, mas o que não escapa e até salta aos olhos é a atuação soberba de Emma Stone ( O Oscar é dela por justiça), seguida de perto por Mark Ruffalo.
Assim, Pobres Criaturas (alusão a raça humana mesmo), ainda que peque ligeiramente na demora de sua conclusão, quase encostando no cansativo, configura-se numa macabra e satírica fábula, felizmente entrecortada de ótimos e geniais alívios cômicos resultando no ápice de um diretor muito além do genial.
Depois dessa crítica, minha administração pelo filme só aumentou!!! BRAVO 👏🏻 Enxerguei detalhes com mais profundidade.