Analise 1.729
Produzido por Ben Affleck, Matt Damon, e pelo próprio Cillian Murphy, esta adaptação do romance de Claire Keegan que se tornou um best seller na Irlanda, denunciando os maus tratos, cativeiro, e regime de escravidão a meninas “caídas” em pecado por uma instituição comandada por freiras católicas, - que toda a comunidade sabia, mas se calava- essa adaptação para o cinema deixa a desejar por sua abordagem de um assunto tão sério.
Com a história centrada numa época natalina, e que se se desenvolve aos olhos da personagem de Cillian Murphy – que dá um show de interpretação minimalista – na pele de um calado, mas empático pai de família que, por conta de seus traumas de infância (mostrados em flashbacks), se apieda de todos os desafortunados que vê pelas ruelas da claustrofóbica cidade, ainda que não tenha voz e nem atitude para ter qualquer tipo de ação por menor que seja.
O escandaloso, porém, sigiloso crime de abuso que aconteceu entre 1922 e 1996 é pouquíssimo explorado pelo roteiro que se exime de acrescentar informações sobre os fatos perdendo a oportunidade de discutir ou mesmo apresentar a grande tragédia social, preferindo adotar o um comportamento parecido com o da população, apresentando-nos com muita parcimônia um quebra cabeça cujas peças vão surgindo quase aleatórias dentro de uma narrativa lenta e a beira do monótono.
Em nenhum momento a narrativa assume um tom de denúncia e, muito menos de investigação dos tenebrosos fatos, preferindo deixar em segundo plano as algozes e as vítimas em prol do olhar deprimido e temeroso do protagonista que, apesar de sua bondade implícita, hesitar, até a última cena, tomar uma ação discreta e concreta.
Com uma paleta de cores desbotada, poucos diálogos, repleta de planos fechados o filme centra absolutamente tudo na presença (espetacular) de Cillian Murphy e apostando que apenas isso baste para sustentar um argumento que acaba no inócuo sem justificar o porquê de estar (mal) contando uma história que, quando parece que, finalmente, vai acontecer, sobem os créditos que contam a história.
Seja como for, o trabalho do Cillian e a presença de uma assustadora e sinistra Emily Watson valem pelo tempo investido.
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