Análise nº 1.671
Saindo fresquinho do Festival de Sundance 2023, #FancyDance, que marca a estreia da diretora e roteirista, Erica Tremblay em longas, fala-nos sobre a precária situação dos nativos americanos na América, mesmo tema abordado por Scorcese no magnífico “Assassinos da Lua das Flores e que pode ser lido aqui , porém de forma contemporânea e, talvez o mais importante, tendo como protagonista a mesma atriz quase vencedora do Oscar 2024, a mais que carismática e potente Lily Gladstone em uma personagem completamente diferente porém nunca menos interessante.
A estreia narrativa de Tremblay é muito delicada, aproveitando-se de e oferece um olhar raro e autêntico sobre a vida dos povos nativos, partindo de um drama familiar muito íntimo que vai escalonando para um Road Movie onde podemos ir percebendo a real situação dos povos nativos marcada por violência cultural, muito desprezo dos homens brancos, mulheres que desaparecem e famílias desestruturadas, forçando esses povos, acuados em suas reservas, a cometerem pequenos e até graves delitos como única forma de sobreviver ao descaso institucional e governamental.
Sem querer ser e não sendo nem panfletário e nem documental, com muita sensibilidade, o roteiro utiliza-se do assassinato e investigação de uma mãe indígena para evoluir para uma perigosa jornada e uma fuga de carro com direito a perseguições, onde todas essas gravíssimas questões são abordadas de forma clara porem nunca contundente, mas que um espectador atento vai percebendo o exponencial preconceito de forma indignada ao longo da aventura até seu final.
Com uma mais que acertada construção de personagens, direção e roteiro através de suas dinâmicas abordam valores humanos e políticos preferindo inteligentemente focar mais na discreta, porém robusta resiliência dos indígenas diante de um cenário de opressão branca, ressaltando suas obstinações, tradições e enorme capacidade e tenacidade de firmeza e convicções, sempre de forma pacífica.
Gladstone é a protagonista incondicional dessa estória, praticamente roubando todas as cenas ainda que num trabalho contido e minimalista, na sua perseverança para manter unida a família mesmo diante de situações doloridas e adversas através de seu espírito aguerrido e protetor e seu respeito por sua cultura e ancestralidade formatando um poderoso retrato de amor genuíno em meio a tantos ódios.
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