Exibido e ovacionado pela crítica no Festival de Sundance/2020, #TheFather, adaptado da peça homônima para as telonas pelo próprio dramaturgo francês, Florian Zeller, é um drama desenvolvido de forma muito engenhosa sobre os percalços da senilidade.
Embora o tema não seja novidade no cinema – “Amour” e “Supernova” o abordam, para citar apenas dois exemplos – o roteiro inova em muito na abordagem, na ótica e na construção narrativa provando que é possível sim revisitar temas desde que o autor e a direção tenham o dom da genialidade literária aliada a uma visão cinematográfica autoral que afasta as nefastas copias ou remakes pouco ou nada inspirados.
Aqui, Zeller, com muita propriedade e segurança insere-nos no tenebroso labirinto do imaginário jogando habilmente com o real e o irreal de tal forma que o espectador seja atraído e desafiado, irresistivelmente, para um desvendamento surpreendente entre verdades e mentiras, sonhos ou devaneios por conta da fragmentação diegética criando dúvidas onde o obvio nem sempre é o que vemos.
Todo o minimalista design de produção, cenografia e angulações da câmera (onde vemos muito por ângulos estreitados), casam perfeitamente a linguagem visual com a trama causando uma experiência sensorial de claustrofobia uma vez que, com raríssimos takes exteriores, é no palco interior de sala, quarto, cozinha e corredores que nos limitam que se desenrola a angustiante viagem lisérgica pela demência senil.
Anthony Hopkins, numa atuação impressionante tendo a ótima Olivia Colman como escada para grandes momentos cênicos amparados por seis coadjuvantes a altura e onde todos tem oportunidades de brilhar e brilham, completam esse sensível e contundente drama com mesclas de suspense e até de terror que açambarca todos os lados e vítimas dessa hedionda doença levando-nos a um clímax que, de tão pungente e devastador, configura-se na experiência mais dolorosas do cinema neste ano.
Ps: “Eu sinto que estou perdendo todas as minhas folhas”
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