Você conhece o reino do Lesoto? Sabe onde fica? Conhece seus costumes, seu povo? Pois é, eu tinha noção que ficava na África e era tudo que sabia. Então, depois deste filme espetacular, imbuído pela chama da curiosidade que nasce com os verdadeiros cinéfilos, fui pesquisar. É isso que também o verdadeiro cinema nos propicia: conhecimento!
Pois bem, o candidato a uma vaga no Oscar 2021, é o primeiro filme do minúsculo reino a entrar na disputa de melhor filme internacional e não faz feio em nada ao nos contar -literalmente, já que há um narrador - a história de uma senhora de 80 anos que se opõe aos planos do governo de construir uma barragem hidroelétrica que irá inundar as terras de seu humilde povoado deixando submerso e, apagando para sempre, a memória das famílias e dos ancestrais que povoaram aquele recanto de uma terra aparentemente esquecida pelos homens e por Deus.
Vencedor do Prêmio Especial do Júri da seção World Cinema Dramatic do Festival de Sundance/2020, essa realização do cineasta autodidata Berlinense, Lemohang Jeremiah Mosese, nascido no Lesoto, é uma verdadeira ode a mãe terra como fonte de vida, sustento e guardiã de memórias centenárias, traçando paralelos entre antigas crenças versus capitalismo destrutivo, numa impressionante demonstração da capacidade da resistência humana diante das diversidades da vida e da morte.
Trabalhando com elenco numeroso de não profissionais – o que demostra um sábio trabalho de direção de atores- Mosese nos leva por trilhas onde o realismo mágico encontra-se com uma arraigada espiritualidade tribal numa espetacular mise-en-scène captada por sua câmera numa sucessão de imagens enquadradas e emolduradas com perfeição repletas de explosão de cores em paisagens impressionantes, enquanto um design de som mais que peculiar abrilhanta a acertada opção proporcional em quadrado semelhante a 16 milímetros.
#Thisisnotaburialitsaresurrection, que traz em seu roteiro camadas justapostas entre o místico, o sobrenatural em choque com o real, impressiona também pela genial utilização de materiais a serviço da trama (panos multicoloridos, brilhosos, opacos, lãs tosquiadas, barro, e cinzas carbonizadas, fechando organicamente em torno da protagonista que, por si só, nos presenteia com uma atuação silenciosa e determinada que beira as raias do épico.
Assim, eis um legitimo trabalho a ser apreciado pelos verdadeiros amantes da sétima arte que devem ficar de olho vivo nesse diretor.
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