O candidato da Finlândia, já incluso nos 15 Melhores Filmes Internacionais além de ser o grande vencedor do prêmio do júri do Festival de Cannes 2023, é um trabalho minimalista em todos os sentidos o que não quer dizer, em absoluto, que não seja grandioso em sua beleza subjetiva.
Antes de mais nada, penso ser muito importante conhecer cinema para falar de cinema e este é um caso prova disto que repetidamente me ponho a repetir. Digo isso porque, para captar sua essência, é muito importante conhecer os trabalhos passados do premiadíssimo internacionalmente, roteirista, produtor e diretor, Aki Kaurismäki, suas propostas e sua estética. Sem isso, pode-se “achar”, dizer muitas bobagens e, até mesmo achar essa obra muito pequenina. O que não é, mas não é!
O diretor sempre teve um olhar aguçado e voltado para personas com parcos recursos, trabalhando sem reconhecimento algum e com vidas solitárias e melancólicas sempre fazendo uma evidente critica ao capitalismo selvagem, a cultura do descarte como paralelo a essas pessoas não vistas pela sociedade e, aqui, no primoroso #FolhasdeOutono, querendo uma companhia que possa ser associada ao amor.
Sim, # FallenLeaves se encaixa perfeitamente no gênero comédia romântica - se entendermos que a “graça” é finlandesa – e está mais ligada a situações e alguns momentos dos poucos diálogos enquanto acompanhamos duas personagens rejeitadas, um homem e uma mulher ( como na maioria das obras do cineasta) , invisíveis socialmente, em seus encontros sempre algo constrangedores e desencontros criados pelo destino, ainda que desejosos de estarem juntos a ponto de se buscarem, mas nem sempre se encontrarem. Sem dúvida, é uma retomada da sua “Trilogia da Classe Trabalhadora,” embora o desconhecimento dela em nada impede de apreciar a obra, só, talvez, de não reconhecer uma assinatura muito autoral.
Incluso na minimalista narrativa, para os atentos, estão várias referências ao cinema bem como contrapontos muito significativos como as trágicas notícias no rádio (que ambos ouvem) sobre a guerra na Ucrânia sempre interrompidas pela troca por músicas como um alívio cênico.
Para quem desconhece a assinatura do cineasta, fica o aviso para não esperar pela tendência atual de situações bombásticas, grandes reviravoltas e, nem mesmo cenas retumbantes. Kaurismäki retrata sua estória através de uma estética que busca o pequeno, o singular, o óbvio, com enquadramentos muito parados, pequenos movimentos de câmera, cortes muito duros e poucos cenários fotografados numa paleta em tons pasteis sempre acompanhados da trilha sonora que insiste no romântico ainda que melancólico.
Por fim, o que fica é que por mais que o mundo seja duro e cruel sempre é possível vislumbrar a doçura, a ternura e o singelo dentro do pequeno desde que haja e há, humanidade e delicadeza em pequenos gestos que escondem uma jamais verbalizada miséria emocional onde ele, nosso cineasta, ainda vê a possibilidade de um amor muito puro que poderá resgatar e lavar a alma de solitários seres.
E que atuações!
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