Análise nº 1.673
Eis um filme que termino me perguntando se ainda existe público interessado em dramas palacianos de época, sem grandes batalhas, nenhum dragão e zero de defeitos especiais. Será?
Bom, eu gostei muito de conhecer a vida de Catarina Parr, a rainha regente que foi a sexta e última esposa do déspota Henrique VII, seus medos, sua força para ir contra todo um sistema político e religioso de uma época onde o machismo imperava em todas as esferas.
É certo que a presença da sueca Alicia Vikander retornando as personagens ( vide o excepcional ‘O Amante da Rainha” que pode ser lido aqui que a consagraram dentro do cinema Dinamarquês e a catapultaram para Hollywood, bem como do sempre excepcional Jude Law, foram um grande chamariz para meu interesse.
Claro que a direção a cargo do brasileiro Karim Aïnouz e o fato de ter recebido boas críticas em sua recente passagem pelo Festival de Cannes, aguçaram minha curiosidade.
Pois bem, #Firebrand, mesmo com seus problemas narrativos, funciona muito bem com sua ótica feminista, privilegiando a situação das mulheres em tempos tão espinhosos, evidenciando a posição da própria rainha que se via em meio a uma disputa masculina de poder além de ter que driblar com sua inteligência os caprichos de um rei que não só tinha o poder de mandar executá-la como podia fazer isso a qualquer momento.
Com uma fotografia apurada, repleta de texturas e granulações captando um palácio, uma corte e uma Inglaterra sombria, o roteiro trabalha sempre dentro de um tom muito intimista abordando com extrema eficiência a complexidade de seus personagens enquanto a direção, sabiamente, trabalha com planos muito fechados e close-UPS onde as emoções são perfeitamente captadas pelo público assim como a aura claustrofóbica de toda uma história, repleta de abusos físicos e psicológicos.
Com suas duas horas de projeção, ainda que o roteiro falhe em se aprofundar mais em sua protagonista, essa história passada há 500 anos, soa algo contemporânea no tocante ao esquecimento e ao quase desaparecimento de mulheres que foram muito relevantes para seus períodos ao promover a luz, a evolução e um embrionário respeito pelo sexo feminino que acabou permitindo a ascensão – da protegida enteada de Parr - Elizabeth, que galgou o trono de seu pai assumindo total domínio político e religioso por mais de 45 anos. levando a Inglaterra a sua "Era de Ouro".
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