O curta de Pedro Almodóvar que estreou em Cannes/2023 com enorme expectativa, de fato é um trabalho que merece muito respeito e muita admiração pelo agilíssimo e pontiagudos diálogos, pela brilhante reconstituição de época através dos incríveis figurinos, cenografias irretocáveis, locações belíssimas no deserto, atuações contundentes e trilha sonora primorosa e mais que pertinente na voz de Caetano Veloso e, claro, a ousadíssima proposta de explicitar um poderoso amor dentro de um clássico faroeste.
Aqui, preciso abrir um pequeno parêntese para quem argumentar que em “Brokeback Mountain” e “Ataque dos Cães” o assunto já tinha sido abordado. Sim e não! No primeiro os tempos eram quase atuais e se tratavam de rancheiros e não de pistoleiros de aluguel e, no segundo, a questão fica apenas no terreno do subentendido, coisa que esse roteiro se desvia vigorosamente.
Em apenas 30 minutos, o genial diretor consegue costurar uma estória sobre dois cowboys, pistoleiros de aluguel, que na juventude tiveram um fortíssimo envolvimento amoroso e físico que só vem ter seu desfecho 25 anos depois da separação de ambos, construindo um grande duelo entre passado, presente e...futuro.
Criando dois personagens complexos, a direção consegue atingir um clima extremamente sedutor e tenso que a latência permeia todo o ambiente numa forma de suspense que prende o espectador inexoravelmente até o final se perguntando se caminhos nunca ousados serão, por fim, trilhados.
Quase contendo-se, a direção opta por uma abordagem não explícita, o que não impede a instalação de uma aura de máxima sedução que provoca e desafia a imaginação do público ainda que forneça graficamente indicações concretas da relação tanto no passado como no presente.
#StrangeWayofLife se ancora na força da presença e da atuação dos veteranos Ethan Hawke e Pedro Pascal envolvidos também com perseguição no bom estilo o faroeste com direito a tiroteios, suspense no “time” certo e joga com perfeição nas imprevisibilidades e reviravoltas da vida.
Curto sim, mas não menos belo, #EstranhaFormadeVida ainda nos surpreende com um genial final em aberto (como a vida), jamais resultando em frustração como geralmente ocorre nessa opção, mas, muito pelo contrário, instigando nossa imaginação e vontade de muito mais, afinal, quem comanda o coração?
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