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Foto do escritorCardoso Júnior

Eismayer – Áustria – 2022

Analise 1.683

Saído do Festival de Veneza, essa história baseada em fatos (que perduram até hoje), toca num ponto crucial e muito atual – ainda que o presidente Obama em 2010, tenha revogado a lei e a política do ‘Não Pergunte, Não Conte’ e declarado: "Somos uma nação que acolhe com alegria o serviço de todo patriota" - o alistamento de gays nas forças armadas de todo o planeta ainda é problemático, controverso e silenciosamente rejeitado.

É partindo desta premissa, “O que define a masculinidade” que o cineasta austríaco, David Wagner, em sua primeira incursão em longas, aproveita-se de uma história recente para roteiriza-la e trazê-la para as telas ainda que dentro de um roteiro que oscila nitidamente entre bons e maus argumentos e cenas numa clara intenção de simplificar uma história que, com toda certeza, mesmo com seus bons momentos dramáticos, não pode ter sido tão...simplista assim.


Com foco total sobre Eismayer, um temido e respeitado sargento do exército, responsável pelo treino de todos os recrutas de uma companhia, o modelo perfeito de macho uniformizado exercendo seu poder masculino, dentro do quartel, através de agressões verbais, gritos e humilhações aos soldados, o roteiro, inicialmente, faz um contraponto com sua tímida e até infeliz vida civil ao lado da esposa e filho; um homem com atitudes e comportamentos totalmente diferentes do militar, a narrativa segue sem grandes novidades.

Com a chegada de um novo recruta assumidamente e orgulhosamente gay, vemos, aos poucos, a casca grossa do tenente entrando em colapso emocional e ficamos sabendo, muito rapidamente e sem alarde de suas aventuras homossexuais secretas com outros recrutas, coisa nitidamente e tão somente carnal, se transformando em um poço de desejos, não apenas físicos, mas, pela primeira vez em sua vida, de caráter amoroso.


Assim sendo, com a lenta aproximação do tenente em conflito de identidade e o recruta muito bem resolvido, passamos da metade para o fim para um filme essencialmente romântico com seus pequenos e pertinentes dramas vividos pelo novo casal em formação.

A linguagem cinematográfica é muito bem feita explorando a luz natural e até com alguns planos bem realizados enquanto as atuações são bastante críveis, no entanto, a gama de assuntos levantados que ficam em segundo plano sem maiores e devidas explorações, muita das vezes até abandonados em meio ao caminho, desestabiliza a interessante história deixando uma impressão de novela que desperdiça o ótimo argumento, mas nunca a relevância temática.


Seja como for, #Eismayer e sua doída jornada emocional em busca da aceitação de si mesmo num ambiente onde podemos ouvir que “bichas no exército é como colocar um pedófilo em um berçário”, reforçando a mentalidade militar dentro do cenário que o recém casal trafega, e assistir um homem profundamente amargurado fazer as pazes consigo mesmo em prol da própria saúde, superando os conflitos internos que o devoraram por toda uma vida em nome de um amor genuíno (que dura até hoje), é sempre inspirador, bonito de ver e, ainda que não mude a conjuntura militar, é a abertura de um precedente de suma importância.     



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