O candidato do Japão ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro no #Oscar2022, é uma uma poesia cinematográfica, uma homenagem às artes, a Chekhov, e a as beleza e crueza da humanidade. O texto encontra Yûsuke Kafuku, ator e diretor, casado com Oto, dramaturga, e, na primeira hora, desenvolve o relacionamento dos dois, suas vidas amorosas e profissionais, até a partida de Oto, quando Yûsuke vai dirigir uma versão multi-cultural e multi-linguagem de Tio Vânia, peça de Chekhov. O texto é nitidamente inspirado no autor teatral, e guarda muitas semelhanças com esse, especialmente, suas concomitantes simplicidade e profundidade, e sua causalidade ímpar, além da mescla perfeita e sutil da dramaturgia com a poesia, sem cair no tedioso, e com o valor humanístico que Chekhov sempre concedia às suas peças, além da usual longa duração. O filme tem três horas de duração que não se sente passarem.
A direção de Ryûsuke Hamaguchi também imprime tons chekhovianos à direção, com imagens que muitas vezes parecem saídas de uma de suas peças, como, por exemplo, de O Jardim das Cerejeiras, conduzindo os atores também nesse sentido. Hidetoshi Nishijima, o Yûsuke, se destaca em um elenco demais afiado, valendo ressaltar também a atuação de Masaki Okada, como Kôji Takatsuki. Critérios técnicos são ótimos, a quase total ausência de música, valoriza os diálogos, e concede ares teatrais, e, quando presente, é oportuna e adiciona à poética.
#DoraibuMaiKâ é uma obra de arte, por suas despretensão, profundeza e interioridade, que conta uma bela e humana estória, sem pieguices ou mensagens sobrepondo sua dramaturgia. Cinema com “C” maiúsculo. Imperdível.
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