Analise 1.682
Recém saído do Festival de Veneza, #Dormitory é uma espetacular crônica sobre um jovem de 14 anos, no segundo grau, que se vê dividido entre sua escola mista e ocidentalizada e um dormitório islâmico para só para meninos que seu pai - para seu pesadelo - o obriga a frequentar para receber uma educação religiosa tradicional e que, no entanto, e inteligentemente não fica apenas nesse enredo desenvolvendo-se por vertentes mais amplas que envolvem a psicologia, a religião, a política e a sociologia, criando uma trama tão realista quanto envolvente.
Filmado quase que totalmente em belíssimos quadros em preto e branco, tem-se como pano de fundo uma Turquia em 1997, epicentro de um gigantesco conflito entre turcos tradicionalistas e um crescente movimento pró islamismo dentro de um país dividido raivosamente e ideologicamente, que perdura nos dias atuais.
Embora o protagonista se esforce muito para ser o filho perfeito para seu pai, ele também reconhece que nunca chegará a atender as expectativas paternais – “Deus não fala comigo como fala com o senhor” – diz o jovem pouco antes de engendrar juntamente com seu melhor amigo dentro do sistema brutal, uma fuga que é uma verdadeira rebelião e, também, uma tomada de decisão sobre em qual mundo se encaixa.
Excepcionalmente bem construído dentro de um realismo cênico e estético e interpretativo, #Dormitory retrata com excelência o choque entre religião e nacionalismo na cabeça de um adolescente preso entre esses dois mundos compondo um drama onde a brutalidade educacional se mistura com as sutilezas da descoberta de amores concretos ainda que dissimulados pelo imaginário dentro do turbilhão emocional do personagem principal.
Com bom ritmo e interpretações louváveis, #Yurt caminha em uma trama tensa, prestes a explodir, enquanto nunca sabemos para onde a história nos levará mantendo um estilo de cinema clássico que eventualmente se permite a colorir a tela, mudar sua frequência narrativa e alterar realidades trabalhando com uma gama de incertezas numa sutil referencia a cabeça do jovem, assim como de uma nação em busca de uma identidade para se fixar.
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