Analise nº 1.670
O bom de se acompanhar e seguir cinema com afinco e por muitos anos é que se fica intelectual e emocionalmente calejado e isso nos poupa de cair na armadilha de admirar propostas que têm apenas uma casca apelativa e ou comercial financeira sem nenhuma inovação que traga o artístico tão fundamental ao cinema.
Esse é o caso do morno #CulpaeDesejo da diretora e roteirista francesa Catherine Breillat, conhecida em sua longa jornada cinematográfica por seus perturbadores trabalhos esmiuçando o universo dos desejos sexuais femininos.
O único problema aqui é que ela resolveu fazer um remake do clássico dinamarquês de 2020, “Rainha de Copas”, que você pode ler aqui e, literalmente, perde o foco não conseguindo sequer se aproximar do original no que concerne a criação de uma teia de complexidades narrativas apontando seu foco, durante seus 105 minutos, exclusivamente para uma relação amorosa tida como proibida por motivos éticos ocidentais e que, nos dias de hoje, ninguém mais se importa ou mesmo se interessa.
E sim, esse é o maior problema uma vez que mantêm o mesmo plot sobre a advogada de cerca de 50 anos que se envolve sexualmente e compulsivamente com seu enteado de 17 anos, dentro da casa da família, mas fica apenas dentro do “caso” em detrimento do ótimo roteiro do original onde a aproximação entre eles é bastante gradual, trazendo um ritmo muito tenso para o processo de sedução, as cenas de sexo são muito mais explícitas e, o mais importante, a questão da culpa é muito e mais profundamente explorada, bem como o jogo de poder da mulher mais velha com relação ao adolescente.
Você pode até assistir pensando que como não viu o original irá gostar deste, entretanto, posso afirmar que não! Esse Culpa de Desejo que praticamente se abstêm dos profundos e contraditórios diálogos do primeiro, esqueceu-se totalmente da agonia da culpa, preferindo ficar mesmo só com um desejo desinteressante, que não justifica o filme.
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