O candidato da Rússia ao Oscar 2021 e já incluso entre os 15 semifinalistas é mais uma potente obra artística do conceituado diretor Andrei Konchalovsky que já nos deu o ótimo “Paraíso” (analise n º 822), desta feita descortinando uma história indigesta que foi ocultada por mais de 50 anos pelo governo soviético: o morticínio na pequena cidade de Novocherkassk, em 1962, onde cerca de 80 operários perderam a vida apenas por protestarem de maneira pacífica contra o aumento nos preços dos alimentos.
Utilizando abordagem nada apelativa no sentido da exploração do trágico, roteiro e direção focam na construção da figura de uma anti-heroína, vasculhando-lhe a alma e as entranhas do Partido Comunista na era Khrushchev contextualizando não só a extensa burocracia vigente, misturando drama familiar, suspense e drama histórico/ político numa sociedade (sistema) onde os que estão por cima traem frequentemente os trabalhadores que dizem apoiar enquanto são fiéis ao partido e, consequentemente, usufruem secretamente de benécias impensáveis a classe operária.
#DearComrades, com seu visual enquadrado na proporção 1:33 e seu belíssimo e nítido preto e branco monocromático com planos de fundo, provoca-nos uma incrível sensação de enclausuramento enquanto seguimos a angustiante jornada de uma mãe radical cuja a ferrenha crença ideológica pode tornar-se a sentença de morte da única filha dentro de um podre sistema comunista onde todos falam baixo com medo de todos.
Com edição primorosa de cortes abruptos, as magníficas e portentosas cenas da repressão sangrenta acabam sendo diluídas o que é próprio de um diretor que não deseja abusar do grotesco e sim mostrar-nos um sistema corrupto e cruel onde todos os vestígios da chacina foram minuciosamente e rapidamente apagados sempre em prol do bem do partido que sabe como esgueirar-se das responsabilidades transferindo-a a outrem.
Com uma atuação impressionante deJulia Vysotskaya (a protagonista de “Paraíso), #CarosCamaradas, é um retrato capturado por várias câmeras ( estilo do diretor), repleto de ironias de um tempo que felizmente não volta mais, e que envolve e compromete o expectador com sua magnitude narrativa e fílmica.
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