O novo trabalho do reconhecido ator, escritor, diretor e produtor, Kenneth Branagh, é ligeiramente inspirado em “Roma”, de Alfonso Cuarón, na medida em que ambos trazem o nome de uma localidade onde ocorreu a infância dos diretores e na opção pela cinematografia em P&B nítido, mas as semelhanças terminam aí, uma vez que, Cuarón, mergulhou em sua infância sob ótica adulta enquanto Branagh opta por relembrar sob o prisma da compreensão infantil.
#Belfast abre com uma sequência de fotos coloridas da atual capital da Irlanda do Norte até que a câmera salta uma parede levando-nos para o passado, em preto e branco, mais precisamente na década de 1960 quando a cidade – e a comunidade em foco - estão no início dos fortes distúrbios que marcaram profundamente a ‘guerra” entre protestantes e católicos, criando um efeito visual muito interessante e eficaz.
A partir daí, o roteiro nos oferece uma narrativa familiar encantadora – mesmo com os embates internos – criando um conto autobiográfico sobre sua jornada de amadurecimento onde entram a magia de um primeiro amor e sua paixão pelo cinema e teatro através de vinhetas coloridas – um show à parte de nostalgia - com trechos de “Mil Séculos Antes de Cristo’ com a bela Raquel Welch, “O Calhambeque Mágico” e na velha TV de tubo trechos de “O Homem Que Matou o Facínora e “Matar ou Morrer “ que assiste com olhos vidrados.
Por certo, os graves conflitos históricos que assombram o momento não chegam a ficar em segundo plano, mas são “entendidos” pela simplista visão infantil uma vez que o roteiro, inteligentemente, se concentra no núcleo familiar e na comunidade onde tudo é filmado num lindo preto e branco com uma iluminação requintada, amplos closes nos personagens embalados e costurados com frequência pela trilha sonora do músico irlandês Van Morrison fazendo com que seja muito difícil não gostar da produção.
O elenco como um todo da um show à parte onde a cada um é dado a oportunidade de brilhar mantendo-nos presos ao desenvolvimento, e embora não seja exatamente perfeito (o figurino familiar, comidas e presentes, não se encaixam na situação financeira da família), Belfast é um belíssimo livro de
memórias e uma tocante declaração de amor familiar e a um tempo e pessoas que ficaram para trás.
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