Analise 1.728
O vencedor do Festival de Cannes 2024 e que vem arrebatando inúmeros prêmios, escrito e dirigido pelo cineasta e roteirista Seam Baker que já nos deu (entre outros) The Florida Project que pode ser lido clicando aqui se caracteriza por explorar o tema de pessoas que fazem sexo por dinheiro e, em Anora, ele produz seu melhor trabalho até aqui ao misturar em doses milimetricamente exatas a tragédia com comédia – alegrias e tristezas - dentro de um tema relevante, criando um verdadeiro conto de fadas às avessas que começa de forma ousadamente erótica, entra pelo farsesco do absurdo e termina de forma muito emocional e trágica numa perfeita combinação de estilos.
Dividido notadamente em três atos dentro de uma narrativa clássica de diferentes tons, Anora, tem no primeiro a criação de uma bolha de alegrias, muitos prazeres e felicidades que desandam para o burlesco para, por fim, nos impactar emocionalmente.
A atriz Mikey Madison (oriunda de uma curta, mas memorável performance em "Era uma vez em Hollywood") brilha e surpreende em todas as situações não sendo atriz de um tom só, muito menos de uma situação só e, portanto, nada monocórdia, aproveitando-se de sua personagem para exprimir uma gama tão infinita de emoções convincentes, todas críveis e diferentes, que não é nada difícil se apaixonar por ela, por sua personagem, pelo show complexo de uma artista que simplesmente arrebata de forma incandescente todo o filme tornando-o dela e só dela a despeito do ótimo e impagável elenco de apoio.
Para mim, já é muito claro antevê-la com uma estatueta dourada nas mãos.
Situado em Nova York, Backer não foge do seu conhecido estilo de falar sobre diferentes classes sociais e elas estão por toda a parte na obra mostrando não só como os poderosos se aproveitam e abusam dos mais necessitados que apenas estão tentando sobreviver e agarrando-se a qualquer possibilidade por mais improvável que seja.
Conhecido por trabalhar com paletas de cores saturadas e muitos brilhos, Baker apresenta uma cinematografia repleta de alternâncias que vão do vermelho inicial, cintilando em rosado passando por um brilho dourado, sempre com uma estrutura granular até concluir sua brilhante fotografia com uma luz opaca de uma triste manhã coberta de neve.
Por fim, em suas duas horas e quinze minutos, Anora é um conto muito bem tecido que brilha febrilmente diante da vulnerabilidade e determinação de sua heroína que, embora seja turbulento e repleto de pessoas altamente estressadas, não perde sua alta cota de emoções pungentes que nos partem o coração e, assim como a vida, sempre nos reserva uma nota de esperança.
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