Analise 1.719
O drama de Walter Salles “Ainda Estou Aqui”, baseado no livro de homônimo de Marcelo Rubens Paiva que logrou a ser o filme indicado pelo Brasil para concorrer a vários prêmios no Oscar 2024, é um trabalho muito bem feito tecnicamente falando, importante para memória brasileira sobre um período nefasto, porém por muito pouco quase não encosta no no tédio.
Com 2h 16m de duração, os 35 minutos iniciais dedicados inteiramente e tão somente a nos mostrar a vida e o cotidiano da família em epigrafe, mais se aproxima de um comercial de margarina com todos felizes em suas vidas privilegiadas sem que absolutamente nada de interessante ou mesmo relevante aconteça e isso é tempo demais até que um incidente se estabeleça.
A escolha por estruturar toda a narrativa em torno das reações da protagonista em virtude de sua tragédia pessoal, em muito pouco ajuda a manter o pico de interesse e, à medida que o filme avança, os clichês de filme biográfico se estabelecem repetindo-se incansavelmente abrindo mão de aproveitar grandes vertentes da história que ficam apenas em breves sugestões e continuamos com a feliz família vivendo feliz mesmo com a grave intercorrência externa que, ao que me parece, deveria ser o fulcro e o lastro do filme. E não é!
A reconstituição de época é primorosa, (locações, carros, figurinos) e a fotografia granulada que vai se esvanecendo com o passar dos anos é impecável principalmente por trazer um tom nostálgico para todo o contexto enquanto a trilha sonora que não brilha, mas não atrapalha cumpre seu papel.
Dentro de uma produção revestida de tanta sobriedade – que anula emocionalmente a dramaturgia - a visão protocolar de todo o contexto chega para estagnar mais ainda os cunhos emocionais esperado dentro de uma tragédia e só se salva por conta de uma atuação esplêndida da Fernanda Torres configurando o melhor e o mais forte de tudo na obra inteira.
Por fim, o bloco final onde geralmente esperamos pelo clímax é o mais fraco de todos mesmo a presença da Fernanda Montenegro atuando como uma compensação dramática que seria desnecessária se o enredo tivesse cumprido esse papel, deixando claro que, desta vez, Walter Salles não encontrou a força da paixão com que nos brindou em Central do Brasil.
Seja como for, embora o resultado final seja de inegável qualidade, me pergunto se os votantes da Academia se deixarão conquistar por uma história tão regional, repleta de regionalidades desconhecidas para a maioria e, mesmo que o tema ditadura ainda seja lamentavelmente atual, até onde essa obra, construída da maneira que se apresenta, conseguirá tocar suas almas.
Tenho dúvidas. Muitas!
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