Lançado por uma plataforma de streaming, essa adaptação teatral prometida e produzida por Denzel Whasington que já havia começado a divulgar as peças do dramaturgo August Wilson, com “Fences” “Um limite Entre Nós” (comentado em 15/01/17), é igualmente, senão mais portentosa!
Ambientado em 1927 na cidade de Chicago, quando o racismo imperava e a dominação branca ofertava uma gama de trabalhos aos negros para explorar a mão de obra abundante e barata, o genial roteiro utiliza-se da carismática e intempestiva “Ma Ray”, aclamada como a mãe do blues, para levar-nos para dentro de uma calorenta e claustrofóbica sala de ensaios de uma banda para dar vozes, através diálogos e monólogos poderosos, a um inventário dolorido de uma sociedade, porém repleto de humanidades.
Como dramaturgo sei bem das dificuldades de transposição textual e emocional de um palco para uma tela onde corre-se um risco enorme, gigantesco, de perder ou diluir a essência dramática, mas o roteiro e a direção de George C. Wolfe que respeitam o material original (seria um desastre tentar ser mais inventivo que o gênio), vence as dificuldades imprimindo uma dinâmica cênica na câmera que simplesmente acompanha os atores permitindo-lhes exercer com plenitude o complexo processo de representar.
Para quem não está acostumado com o intrincado e magnífico processo teatral, certamente poderá estranhar (e não gostar), do molde mesmo que a direção ofereça algum alívio da densidade com algumas poucas externas em torno do epicentro, mas sempre privilegiando o texto e suas tensas camadas mantendo como prioridade máxima o foco nas atuações e, é nesse quesito, que todo elenco encontra espaço de atuação com evidente e até quase óbvio destaque para Viola Davis e o hipnótico e catártico Chadwick Boseman.
Em #MaRaineysBlackBottom, a sapiência da direção utiliza planos (closes) que engradecem as atuações enquanto a fotografia, trilha sonora, montagem, edição, figurinos e maquiagem estão a serviço do ofício do ator, sem tentar concorrer com eles utilizando artifícios e truques cinematográficos - o que é um grande acerto - permitindo que a condução fique por conta dos personagens permitindo, em especial, que Boseman transcenda numa entrega comovedora e impressionante em questionamentos da própria mortalidade.
Assim, #AVozSupremaDoBlues, configura-se numa experiência sensorial que sobrepuja sua importante temática em calafrios e arrepios advindos do embate entre ficção e realidade através da sensibilidade que somente a arte é capaz de explicitar.
Ps1: Grande falha em não legendarem as letras das músicas;
Ps2: Garantia de duas indicações para atores;
TRAILER
Comments