Etíopes trabalhando, colonoscopia em andamento, um jogador imbecil, obsessivo e trapaceiro, uma esposa que o detesta, uma filha que o despreza, uma amante que o adora, um mundo corrupto e confuso, um novo rico famoso, uma pedra “mágica” e um montão de dívidas, ploteiam uma narrativa vertiginosa e bombástica onde todos falam ao mesmo tempo, numa estória tensa de malabarismos que nunca sabemos onde nos levará.
Para quem teve a sorte de assistir o interessantíssimo “Bom Comportamento” (2017) verá que os irmãos Safdies formatam seu estilo sabendo como nos enredar através de sequências de cenas originais, muito bem desenvolvidas e repletas de uma efervescência inquietante (não por ações), por conta da tensa e veloz conjuntura narrativa impregnada de sons e ímpeto.
Com abordagem audaz trazendo a importância da ambientação (visual e sonora), e utilizando-se da atmosfera claustrofóbica e da imprevisibilidade, enredo e direção brincam com a perspicaz capacidade de surpreender na mesma proporção que não evita os choques de sinceridade, deixando bem nítido uma peculiar plástica fílmica e um tipo de humor refinado pontuados pela trilha sonora eletrônica e a fotografia que, explorando os brilhos , conferem ao longa certo “ar hipnótico”.
Com personagens interessantes em atuações humanizadas, a direção os insere em momentos banais para revelá-los em situações estrondosas e, Adam Sandler, com seu Howard , assume seu complexo e idiota protagonista, (espocando entre o tímido e enfurecido) compondo, com certeza, um dos maiores sujeitos de sua carreira.
Assim, seja qual for seu estilo cinematográfico, “Uncut Gems” irá te imergir em sua narração do princípio ao fim e, mesmo que você não seja pego pela empatia, dificilmente será pela apatia.
Ps1: Disponível em VOD
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