Ninguém jamais amou uma cidade, como Woody Allen. Nova Iorque é sempre a maior protagonista de seus filmes, independente da história que, lá, ele conta. #UmDiaDeChuvaEmNovaIorque narra a viagem dos namorados, Gatsby Welles, nascido e criado lá, e Ashleigh Enright, de Tucson, Arizona, à Manhattan, quando ela substituirá uma colega adoecida na entrevista a um diretor de cinema famoso.
O roteiro de Allen é delicioso, impecável, charmoso e interessante. Embebido em metalinguagem, as personagens Roland Pollard, Ted Davidoff e Francisco Vega, respectivamente, diretor, roteirista e ator, em conjunto, parecem constituir o alter ego de Woody, e trazem diferentes traços de sua personalidade, uma certa neurose, uma certa insegurança, uma certa discrição, uma certa excentricidade. As protagonistas levam nomes de personagens famosas do cinema, Gatsby, de o Grande ..., e Ashleigh, que o próprio texto vincula à personagem Ashley Wikes, de E O Vento Levou, e exibe referências a filmes como Hannah e Suas Irmãs, na personagem Chan Tyrell, atraída pelo ex-namorado de sua irmã, desde quando ainda juntos, a Noivo Neurótico e Noiva Nervosa, entre outros. O texto percorre as aventuras e desventuras de Ashleigh e Gatsby na “Big Apple”, organicamente, desfilando por suas ruas para contar uma estória intrigante, romântica, cheia de humor, e, um tanto, inusitada, declarando seu amor a cada locação. Há, também, uma crítica, ou análise, da fidalguia das artes versus o popularesco, como das elites versus os ordinários, ou comuns.
A direção de Allen é fantástica, suas escolhas são altamente elegantes, os movimentos de câmera, primorosos, seus enquadramentos, quase pinturas, seus distanciamentos e aproximações, delicados, além de conduzir com mão muito firme o elenco. Dito isso, Thimothée Chalamet, Selena Gomez, Elle Fanning, Liev Schreiber, Jude Law e Diego Luna estão impecáveis em seus papéis, por mais excêntricos que sejam, e o elenco coadjuvante é excelente. Os aspectos técnicos são todos esmerados, mas, apesar da fotografia ser belíssima, em um dia de chuvas, a música é um fio condutor auxiliar, que, com o texto, ajuda a contar essa estória.
Um deleite narrativo, #ARainyDayInNewYork, marca o retorno de Allen a sua plena forma, que, com um texto picante, jocoso, e intenso, ao mesmo tempo, conta uma história e declara seu amor incondicional por Nova Iorque. Imperdível.
Em cartaz.
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