#OIrlandês, o último filme de Martin Scorsese, é um filme certinho, tem um roteiro muito bem escrito por Steve Zaillian, baseado no livro de Charles Brandt, e conta uma interessantíssima trama político-criminal, que lança novas luzes sobre o assassinato de John Kennedy, e provavelmente de Bobby também, e sobre o desaparecimento de Jimmy Hoffa.
O texto narra, entre idas e vindas em diversos momentos no passado, na voz da personagem real no presente ficcional, o irlandês Frank Sheeran, desde seus dias de caminhoneiro, seu envolvimento com o sindicato da classe e a máfia, e costura uma trama que pinça diversos momentos icônicos da história, como a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, as relações estremecidas entre Bobby Kennedy e os dirigentes sindicais, a associação dos últimos com a máfia, e com a política, entre outros, e traça hipóteses para esses e outros fatos, como o desaparecimento do próprio Hoffa. Para quem desconhece a história, é muito interessante, mas como se trata das memórias de Sheeran, o foco narrativo está em suas relações com elementos de todas essas esferas, e suas visões dos fatos e de detalhes de sua vida, que, por não ser uma personagem conhecida, cativa menos interesses do que os fatos históricos relatados nessa. Dito isso, o filme é uma análise profunda das relações de Sheeran com o mafioso Russel Bufalino e com Jimmy Hoffa, suas alianças e seus conflitos, muito bem descritos nas forças de poder, de influência, e até de amizade, entre os três. Contudo, o texto relega bastante suas relações familiares, apesar da corajosa mudez de sua filha Peggy, que não emplaca, especialmente na fase adulta, por falta de exposição e melhores contextualizações de conflitos.
A direção de Scorsese é excelente, mas não supera o já visto, vale ressaltar alguns movimentos de câmera interessantes, como os da homenagem à Sheeran e outros nem tanto, como aquele que o encontra na cadeira de rodas, logo no início do filme. Robert De Niro e Joe Pesci, reunidos mais uma vez sob a batuta de Scorsese, acrescidos de Al Pacino, dão show, mas Pesci e Pacino estão fabulosos, em interpretações criativas e diferenciadas em suas carreiras. Já De Niro, apesar de excelente, não distingue muito sua atuação de outras já vistas, tendo seu maior destaque na cena em que, a pedido de Peggy, liga para Jo Hoffa, quando do desaparecimento de Jimmy. Anna Paquin tira sangue de pedra em suas poucas e silenciosas cenas, e o resto do elenco é proficiente. A música é ótima, mas em algumas cenas sua ausência incomoda, e seriam mais contundentes, caso presente. Fotografia, arte e edição são excelentes.
#TheIrishman traz uma trama interessante, demasiado longa, mas que merece conferir pelos trabalhos de Pacino, Pesci, De Niro e Paquin, e pela direção de Scorsese. Vale muito assistir.
Em cartaz.
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