O vencedor do prêmio da crítica na Mostra "Un Certain Regard" no Festival de Cannes 2019 e, candidato a Melhor Filme Internacional, dirigido e co-roteirizado por Kantemir Balagov de apenas 27 anos de idade, compreende, apresenta e honra com sangue novo toda a estética peculiar do cinema deste país. Não, não é trabalho a ser admirado por e pelos amantes de entretenimentos, pois é cinema na essência mais pura e profunda da sétima arte.
Inspirando-se livremente no livro “O rosto não-feminino da guerra”, ambientado em Leningrado após o final da Segunda Guerra Mundial, "Beanpole" retrata, sem didatismos e através do impressionante poder de suas imagens, o pós traumático das mulheres soviéticas ( e homens), em uma cidade, que sobreviveram ao inferno de uma guerra que terminou, mas os deixou, todos, a adentrar as portas de um purgatório existencial onde a morte de um ente querido é recebida com naturalidade resignada. A espetacular cinematografia utiliza-se de belíssima estética barroca priorizando uma paleta de cores que vai dos tons de âmbar, amarelo, marrom, verde e vermelho, criando requintada beleza pictórica realçada pelo impressionante design de produção e uma câmera que acerta e explora os close-ups para ampliar a atmosfera claustrofóbica que habita o interior dos personagens através de longos olhares repletos de sentimentos e poucos diálogos que trabalham o ritmo catatônico da narrativa de um roteiro espantosamente coeso e alegórico que amplifica uma gama de confrontos emocionais.
Com elenco de amadores que atingem performances impressionantes, #UmaMulherAlta transita pelo sombrio do pós guerra sem nenhuma cena de batalha que não esteja interiorizada, atraindo o espectador de forma irreversível para uma estória de amor, amizade e sobrevivência, adentrando por territórios psicologicamente complexos num estudo histórico das patologias que devastam a psique de uma população sem apelar para a vitimização dos personagens.
Contundente e, ainda assim, delicado, #Beanapole não é trabalho para amantes de entretenimentos mastigados- comerciais, pois é cinema Russo da maior qualidade / originalidade, que não teme expressar ( e isso é necessário), a paralisia e o aniquilamento humano pós guerra, qualquer guerra.
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