É muito fácil começar assistir #GullyBoy imaginando que os clichês de “Nasce uma Estrela” serão repetidos outra vez, novamente, de novo, mas é seguro que tal impressão desmoronará por conta da competência de uma grande contadora de estórias que sabe como transformar o provável em surpreendente. Sim, a estrela nascerá, todavia com brilho próprio e único do espetacular cinema indiano.
Filmado na favela de Dharavi (a maior da Índia e onde também foi rodado "Quem quer ser um milionário"), a brilhante cineasta Zoya Akhtar gerencia de forma dominante e impressionante a complexa estrutura narrativa repleta de tramas e subtramas comuns ao cada vez mais potente cinema Bollywoodiano, construindo um trabalho primoroso que, por não negar seu forte apelo dramático, ainda mantêm a ingenuidade, beleza e leveza que permeia e consagra esse tipo de cinema.
Com roteiro que nos leva facilmente por suas 2h30m, ainda que com muitos personagens, cada arco dramático é perfeitamente bem desenvolvido e concluído, contando com atuações certeiras e carismáticas de todo elenco; protagonistas e coadjuvantes. Destaque para todas as figuras femininas retratadas sempre como mulheres fortes e independentes, mesmo numa cultura altamente machista como a indiana. Outro acerto genial está na ótica que apresenta a sociedade rica de Mumbai sem nenhum destaque,quase desfocada, em comparação com os espetaculares detalhamentos e planos da parte pobre e necessitada da cidade.
Há muito que se dizer, escrever e debater sobre #GullyBoy , porém por tratar-se de um mais que autêntico “feel good movie” que atinge, brinca e mexe com várias emoções através da universalidade de todos os temas abordados, só é possível vivê-lo e amá-lo embarcando na experiência, em sua cadência, no seu ritmo perfeito, na mais que impecáveis edição e montagem, na deslumbrante fotografia, nos diálogos, na vibrante trilha sonora e nas empolgantes coreografias. Apenas escrever ou descrever esse longa, é muito pouco pra transmitir sua vibração cinematográfica-social e a riqueza ímpar da preciosa metalinguagem que é um capitulo a parte e fala por si só.
Assim, resumindo muito, sob a égide de vários tipos de amores e dores, Gully Boy, com seu misto de ferocidade, paixão e delicadeza, arrasta o espectador por inúmeras e apinhadas ruelas de emoções até seu apoteótico, inventivo e emocionante clímax.
Bravo, Índia!
Ps1: Será que Hollywood honrará seu mais que poderoso concorrente?
Ps2: Ainda sem titulo em português, pode ser visto pelo streaming, através do Amazon Prime Video.
PS3: “Nosso povo olha casta e credo”
Ps4: “O filho de um servo é um servo, é a lei da natureza.”
TRAILER