Eis um trabalho que definitivamente não é para gostos mais popularescos e nem pretende ser e isso é bom e ruim ao mesmo tempo. O projeto estético do diretor e roteirista Steve McLean, baseado na alusão a grandes mestres das pinturas, artes plásticas, teatro e literatura com obras conectadas ao homoerotismo (relação erótica não necessariamente sexual), é uma experiência teatral que transita pelo surrealismo com uma nítida desenvoltura farsesca para apresentar uma releitura das artes visuais despida da poeira dos tempos ou dogmas.
A fabulesca e casta premissa sobre o jovem prostituto com Síndrome de Stendahl alçado a muso e narrada em três estágios, em uma narrativa despida de grandes potenciais dramáticos, mas repleta de elegância visual, momentos pictóricos cômicos, excelente trabalho de direção de atores, na potente fotografia de contraste claro-escuro, iluminação em neon, trilha pontual e enquadramentos interessantes, cenários e figurinos que, ora remetem ao clássico, ora espocam em pop.
Trazendo o britânico Harris Dickinson (Beach Rats) como protagonista, a discursiva passeia por Caravaggio, Guido Reni, Werner Fassbinder, Pedro Almodóvar, Gore Vidal, Jean Genet sem nunca acender ou mesmo pretender impactar como Querelle embora a alegoria dos marinheiros seja muito presente.
Com roteiro excepcionalmente obvio, não só os claros e escuros da fotografia extrapolam, mas também o confronto entre o belo e o feio, o velho e o novo, a morte e a vida, pulsões e introversões, fins e renascimentos em inquietos ciclos que conclamam, a todo momento, a arte.
Assim, #PostcardsFromLondon que flerta deliberadamente com uma perspectiva ousada e arrojada, infelizmente, para o bem e para o mal, por abordar tantas vertentes artísticas corre o risco de parecer pedante e, para alguns cair no entediante, mas nunca no irrelevante.
Vale conhecer.
Ps1: Disponível em VOD
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