Joana, filha de Ana, uma exilada política, vive em Paris, com seu meio-irmão, filho de Luís, argentino, exilado, novo companheiro de sua mãe, e com Paco, filho de seu padrasto e de mãe chilena, quando a anistia é concedida no país e ela e sua família devem retornar ao Brasil, onde a adolescente precisará confrontar o seu passado.
O roteiro de Flávia Castro, linear, encontra Joana vivendo em Paris, na iminência de retornar ao Brasil, após a concessão da anistia, ampla, geral e irrestrita, não muito animada com a ideia de voltar a um pais que desconhece e que, em seu retorno, vislumbra extratos de seu passado, reais ou imaginários, com os quais tentará desvelar as circunstâncias da queda de seu pai, um desaparecido político. O texto traz mais um ângulo para situação diversas vezes endereçadas, mas que angaria interesses pela ótica da jovem Joana, das idiossincrasias da situação, como a comunicação familiar em diversas línguas, e do foco no desenvolvimento pessoal da protagonista. Contudo, apesar de interessante, o texto almejando o poético, mostra-se pouco objetivo, às vezes, cansativo, e, um tanto, repetitivo, pois mostra o que outras obras, já, por diversas vezes, mostraram e não se aprofunda devidamente nas questões de memória, do lembrar ou deslembrar, que poderiam ter sido melhor exploradas.
A direção também de Flávia, também mirando o lírico, se perde em excertos, normalmente utilizados para passagens de tempo, que não atingem o poético, e, às vezes, impactam a edição. Entretanto, é muito criativa ao evitar ambientações no período retratado, que aumentariam muito o custo de produção. A menina Jeanne Boudier, a Joana, faz um belo trabalho, apesar de denotar traços de sua inexperiência. Sara Antunes, muito bem no papel da mãe, e Julián Marras, também, no do padrasto, ancoram o elenco. Eliane Giardini tem boa participação, e os coadjuvantes são muito bons, destaque para os meninos que interpretam os “irmãos”. A fotografia é ótima, trabalhando muito bem os desfoques que descontextualizam a época nas externas; arte é muito boa, reproduzindo muito bem o período nos ambientes internos e nos poucos externos; a edição sofre os com excertos supracitados e comete alguns equívocos nos deslocamentos som-imagem entre cenas. A música é criativa e se beneficia com o uso do The Doors, especialmente, na bela cena final.
Um filme sobre tema já muito explorado pelo cinema brasileiro, interessante na escolha do ponto de vista da adolescente, mas que não se sobressai o suficiente para qualquer distinção. Vale conferir. Em Cartaz.
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