Em meio a polêmicas jurídicas, Graças a Deus, baseado na história real de Alexandre Guérin, François Debord, e Emmanuel Thomassin, que acusaram o padre Bernard Preynat de pedofilia, e o cardeal Phillipe Barbarin de omissão, chega às telas brasileiras no Festival Varilux de Cinema.
O roteiro de François Ozon segmenta o roteiro em três partes, focando cada um dos protagonistas, Alexandre, François, e Emmanuel, relatando, sob a ótica das vítimas, o movimento que implicou os clérigos. Aparentemente, a narrativa contemplaria os três fundadores da associação de vítimas do padre, que hoje conta com oitenta e cinco homens, mas Emmanuel, apesar da contundência de sua história, não é um deles. Assistindo-se ao filme entende-se por que um esquivou-se de participar da trama, pois, ao longo de seu desenvolvimento, vê-se questionamentos e desconfortos tanto de vítimas, quanto de seus familiares e amigos, e, essas idiossincrasias são o que tornam o filme interessante, as diferentes reações dos pais e parentes no presente, e as, às vezes chocantes, reveladas do período em que os abusos ocorreram, que passam por omissões por diferentes motivos ou por tentativas fúteis de evitar que o crime se perpetuasse e acometesse outras crianças.
Interessante também são os posicionamentos dos clérigos e da igreja católica, apesar do progressismo do Papa Francisco, que chocam, geram risos revoltados, e incomodam, também, as conjunturas coniventes e, pasmem, até transparentes.
Apesar da relevância do tema e das diversidades circunstanciais, em sua longa duração, situações começam a se repetir distinguindo-se apenas pelo cenário, tornando-se um relato um tanto cansativo, já que não se aborda, em momento algum, fatos, opiniões ou situações relativas aos acusados que não advenha das narrativas das vítimas, pois Preynat ainda não foi julgado, motivo das disputas judiciais em relação ao filme.
A direção, também de Ozon, é excelente, mantendo tonalidades austeras constantemente, mesmo em situações mais contundentes. Fotografia, música e arte, ótimas, seguem os mesmos paradigmas. Mevil Poupauld, o Alexandre, Denis Ménochet, o François, Swann Arlaud, e as atrizes que encarnam suas companheiras, também ótimos, entregam um trabalho coeso, firme e digno da pungência do tema. Bernard Verley, o Preynat, e François Marthouret estão excelentes no grande desafio de interpretar personagens polêmicas com a devida distância e isenção.
Um filme sobre um tema tão atual e relevante, os abusos cometidos contra crianças pela igreja católica, mantendo a austeridade necessária à credibilidade da história. Vale assistir.
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