O polêmico seriado criado e dirigido por José Padilha lança sua segunda temporada de oito episódios mantendo o plot dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, ampliando os dilemas de seus protagonistas e criando uma ótica abrangente sobre o maior escândalo do nosso país fazendo com que a ignomínia de algumas personagens suplante as de “House of Cards”.
Já na sensacional abertura ao som de Reunião de Bacana (Se Gritar Pega Ladrão), com várias figuras públicas conhecidas apenas com tarja nos olhos, fica claro que o espectro a ser abordado será muito mais amplo e apartidário para provocar reflexões sobre o quão antigo e obscuros são os conchavos e conluios em nosso país.
A mim, cabe pensar que, uma rejeição a esse trabalho seria, não só, um enorme preconceito ideológico como também um total desconhecimento da carreira do reconhecido diretor que, aqui, liberta-se de amarras partidárias para formatar uma estória muito produtiva sobre a mecânica do poder e, para tanto, coloca na boca do protagonista frases do tipo: “esquecer a ideologia e pensar única e exclusivamente no mecanismo”. É esse o convite.
E é partindo dessa premissa sem “apontar” um lado apenas, Padilha não faz mera releitura de fatos divulgados pela mídia, mas utiliza-se deles para criar um thriller e uma trama com forte pico de tensão onde além da questão da corrupção epidêmica que corroeu nosso país, abre espaço para discussões sobre família, relacionamentos, ética, raça e gênero fazendo com que possa ser apreciada e acompanhada por qualquer público, nacional ou internacional, sem conhecimento do panorama brasileiro.
Com direção de atores e cênica precisa em seus longos planos abertos e aéreos, ainda que a câmera de mão trema ligeiramente em algumas tomadas, Padilha imprime ritmo perfeito não só a cada episódio, bem como administra com perícia e agilidade os vários núcleos que compõem a diegese estabelecendo um equilíbrio admirável pelo sincronismo da edição.
Com elenco principal e de apoio concisos e convincentes (destaque para Enrique Dias), #OMecanismo aposta na forte dinâmica entre protagonistas e seus antagonistas para embaralhar com habilidade ficção e realidade engendrando uma trama de cartas e naipes - independente de simbolismos e eixo no período de 2014 a 2016 – montando intrincada engrenagem em movimento desde um passado distante ao incognoscível futuro. Vale muito ver pra debater.
TRAILER
Ps1: Disponível na Netflix
Ps2: Muito possível uma terceira temporada.