Indigesto, proscrito, nauseante, cruel, mas não necessariamente ruim, Vox Lux é um reflexo da nossa sociedade e, certamente, não irá agradar uma parcela considerável do público. A trama coloca um espelho à frente do espectador, e o reflexo desvelado é hediondo, e quem gosta de, ao se admirar, encontrar uma imagem um tanto repulsiva? #VoxLux o faz, mas a um preço, a indigestão.
A trama, muito simples, ilustra a trajetória de Celeste ao sucesso, cujo berço é um trágico e mortal ataque de um aluno, com o qual ela aparenta ter alguma proximidade, a sua escola, estabelecendo simultaneamente um mistério quando a protagonista, ainda se recuperando do ferimento em seu pescoço, revela a Eleanor, sua irmã, com quem possui inusitada simbiose, ter feito algo terrível. Brady Corbet, entremeadas na espinha dorsal, estabelece diversas significações relevantes.
Tudo é provido de sentido, texto, diálogo ou imagem. Corbet estabelece um narrador, perfeito na voz crítica de Willem Dafoe, e, no cenário da música pop, ilustra o percurso proscrito de Celeste, usurpando o sofrimento para lançar-se nesse mercado com sucesso. O reluzente é a marca da desconstrução, cultural ou social. Onde via-se as torres gêmeas, Corbet, habilmente foca o fulgente edifício em seu lugar; da lânguida Celeste, surge a cintilante. Mas como nem tudo que reluz é ouro, Corbet, descortina seus bastidores, para revelar uma cruel, amoral e desvirtuada personagem, forjada por seu empresário e sua publicista, criando uma persona musical, como tantas que podem estar nesse mercado fazendo sucesso em nome do sofrimento ou discriminação alheia. E Corbet vai além quando paraleliza essas características para a sociedade na comparação entre o WTC e seu substituto.
Corbet nauseia o espectador com a rudeza com que descreve Celeste, o mercado musical, e sua evolução até o show no final, propositadamente longo, para acentuar a náusea e a sua percepção, mas também com sua direção, lançando mão de passagens de câmera aceleradas e distorcidas em diversas ocasiões, oportunamente, preenchidas pela narração de Dafoe. Natalie Portman, perfeitamente, imbui Celeste de asco, concedendo alguma humanidade, também presente no texto. Jude Law, faz o mesmo, mais passivamente, como também Jennifer Elhe, a publicista.
Vox Lux apropria-se do cenário da música pop para revelar a trajetória da humanidade rumo à “Sociedade do Espetáculo”, onde tudo é frívolo, é vazio, é show, inclusive um ataque terrorista perpetrado sob a máscara cintilante de Celeste. Também faz crítica ao showbiz, quando a metáfora ainda aponta em algumas direções, vide a estética e o ano de nascimento da protagonista. Muito mais pode ser dito de Vox Lux, mas ficamos por aqui de olho em Brady Corbet, Raffey Cassidy e Stacey Martin de quem podemos esperar boas intervenções no futuro. Vale assistir, mas não espere uma fácil digestão, pois não é simples cogitar que aquilo que tanto admiramos pode ser um tremendo lixo. Em Cartaz. #ParisFilmes #ParisFilms #SierraAffinity#VoxLuxOPreçodaFama
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