O vencedor da Palma de Ouro de 2018, o japonês#AssuntoDeFamília, é surpreendente, desenvolvendo sua trama com muita delicadeza, devagar, aparando arestas, preenche lacunas e constrói o cenário onde discorre sua simples narrativa. Um grupo de pessoas, sem vínculos sanguíneo, reunidas pelas mais bizarras circunstâncias, que são gradativamente reveladas, mas unidas por verdadeiros laços de amor, apesar das estranhas conjecturas em que se baseiam suas vidas e sua sobrevivência.
O enredo encontra Shota, um menino, entre 10 e 12 aos, e Osamu, supostamente se pai, em ação, roubando em um supermercado. Ao voltarem para casa, se deparam com Juri, uma menina, em torno dos seis anos, largada pelos pais na varanda, apesar do frio, a quem oferecem comida e acabam por levar para casa, e que permanece com eles, quando seu desaparecimento não é reportado por sua família. A história constrói a rotina desse grupo familiar, todos párias e vivendo à margem da sociedade, com ocupações as mais inusitadas impossível, onde sexo, amizade, amor e até morte são vividos de forma costumaz, quando um contratempo acaba por expor à sociedade e ao espectador a real natureza das relações do grupo, culminando em conclusão singular. As relações, apesar de atípicas, são de amor incondicional, onde sacrifícios são feitos para salvarem uns aos outros, e contrastam com as relações de sangue.
A direção de Hirokazu Koreeda, autor do roteiro, é bastante precisa, seca e um tanto dura, escolhendo planos e distanciamentos que reforçam a fronteira entre o grupo e a sociedade japonesa, e é firme com o elenco mirim. O elenco é bastante coeso, operando em sintonia, substanciando os laços familiares das personagens. Destaque para Lily Franky e Sakura Andô e para as crianças Jyo Kairi, o Shota, e Miyu Sasaki, a Juri. A música adiciona às relações do grupo. Fotografia, arte e edição são excelentes.
Um belo filme sobre os verdadeiros laços que nos unem, além de uma crítica à sociedade atual, é o que traz o lírico Assunto de Família. Imperdível.
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