#OGrandeCircoMístico , baseado em um poema de Jorge de Lima, candidato a uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, não aufere nem lirismo, nem dramaturgia, que justifiquem tal comenda, e, quase certamente, frustrará a aspiração do brasileiro de ver um de seus filmes com chances de trazer a primeira estatueta para casa.
O roteiro de Cacá Diegues e George Moura desencadeia a trama na passagem do cometa Harley, em 1910, e a centra em torno da personagem Fred, que ao descobrir a real natureza de sua relação com sua madrinha, a imperatriz austríaca, pede-lhe um circo para realizar o sonho de sua amada Beatriz de retornar ao picadeiro, e acompanha as gerações herdeiras da lona até os dias de hoje. A dramaturgia não deslancha, pois a espinha dorsal, que une as sagas familiares, é superficial, como também as das individuais, malogrando criar conflitos com tensões contundentes que as embasassem. Os fracos diferenciais tensionais, geralmente fortuitos do destino, não propiciam a conexão do espectador à trama, prejudicando a atmosfera lírica. De místico, pouco se tem além da passagem do Halley, como a personagem Celavi, homofônico de “c´est la vie”, é a vida em francês, que não envelhece, cujo nome reforça a tese dos conflitos circunstanciais, que para criar impacto ficam cada vez mais bizarros, mas não menos vãos. Agravando ainda mais o cenário, os diálogos são demasiadamente mal escritos, quase banais.
Cacá Diegues parece ter perdido a mão direcional, após doze anos sem conduzir ficções, e o resultado final assemelha-se mais a uma minissérie da Rede Globo, uma de suas produtoras (Globo Filmes). Seus enquadramentos e tomadas são indistintos e sem graça. De grande, o circo tem muito pouco, as cenas de picadeiro são extremamente comuns. Todo o elenco, inclusive o experiente Vincent Cassel, com o texto debilitado, depende do direcionamento de Diegues ou de talentos individuais para se destacarem, mas nem Cacá os consegue orientar, para embasar o roteiro que escreveu, nem quaisquer dos atores consegue, com suas artes, aprofundar os conflitos tênues do escrito. A fotografia, a edição e os efeitos especiais parecem feitos para a televisão, a música, apesar de trazer belas canções de nossa música popular, não comungam com a trama e acabam por ficarem deslocadas.
Uma obra de alto custo, que mais lembra aquelas pontes que uniram o nada ao lugar nenhum, em diversos pontos do país, O Grande Circo Místico é um grande equívoco de investimento e tempo, que em nada lembra obras importantes como Bye Bye Brasil ou Xica da Silva.
PS: Em cartaz.
TRAILER