O concorrente da Itália a uma vaga no Oscar 2019, baseado numa incrível história verídica, já saiu de Cannes/2018 com o premio de Melhor Ator para o protagonista Marcello Fonte, nas mãos do diretor Matteo Garrone de “O Conto dos Contos,” já comentado por nós.
Apesar de o roteiro utilizar um mecanismo de ação, Dogman não aposta numa trama complexa para prender o expectador e sim, em várias metáforas para contar a história de seus dois protagonistas, homens com sérios problemas de adequação social em meio a um cenário suburbano da década de noventa, trabalhando apenas com um único embate a vaticinar um desastre, quando a dependência entre o dominado e o dominador escapa do âmbito pessoal atingindo a comunidade. Muito interessante!
A análise metafórica sobre a simbiose mórbida que liga os protagonistas em seus jogos de dominação e submissão, certamente revoltará muito o espectador, trazendo um enorme incômodo diante da passividade (leia-se lealdade), de um diante dos constantes e inomináveis abusos do outro.
E, é esse estudo, esse retrato sobre a dualidade da passividade amorosa (canina), e a necessidade da sobrevivência social (animalesca), que faz de “Dogman” um trabalho muito acima da média ainda que se limite a um argumento raiz bem pequeno com elementos cenográficos intencionalmente reduzidos.
É claro que com tão poucos elementos, a direção precisava não só de dois atores com muito talento para sustentar a narrativa, mas de dois atores que, mesmo desconhecidos, atingissem uma química absoluta e, Marcello Fonte e Edoardo Pesce potencializam de uma forma tão esplêndida seus personagens que, acompanhá-los nos leva para uma experiência nervosa e angustiante do princípio ao macabro final.
Tecnicamente, o trabalho visual é impecável ao criar uma atmosfera decrépita com uma fotografia excepcional em tons de cinza azulado refletindo a frieza de um cinema realista contrastando com os raros momentos de azul marítimo, nos momentos de sonhos familiares, enquanto a câmera de Garrone se fixa em closes doloridos, criando cenas longas tão asfixiantes quanto às panorâmicas opressivas, amparando-se numa edição primorosa e num desenho de som impecável.
Por tudo isso, “Dogman” que não apenas apresenta um retrato humano realista ao extremo- tanto por sua inocência quanto por sua violência- também insere o elenco canino ganhador da Palme Dog (melhor atuação canina), representando um cinema de altíssima qualidade seja por suas alegorias, interpretações ou coesão estética.
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