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Foto do escritorFábio Ruiz

O Doutrinador – Brasil – 2018

Atualizado: 22 de ago. de 2020


Baseado no HQ homônimo de Luciano Cunha, O Doutrinador talvez falhe já na origem, ou seja, nos quadrinhos, que, como qualquer outra história de heróis no formato, carrega críticas à sociedade, alguns mais, outros menos, mas uma análise sócio-política sempre há, as vemos em Os X-MEN, em Watchmen, em Capitão América, entre outros, e O Doutrinador não foge à regra, mas a entorta.

Os pareceres embutidos nesse tipo de trama transcorrem em um nível mais teorético, mais dogmático, mas ainda permitindo a extrapolação para situações da vida real sem as instanciar diretamente a personalidades ou a situações específicas. Por exemplo, os X-MEN versa sobre os preconceitos, sobre a dificuldade da humanidade em reconhecer e aceitar os diferentes e oprimidos, sejam eles os judeus na Alemanha nazista, os homossexuais, desde que saíram de seus armários e lutaram por recognição e acolhimento pela sociedade, as mulheres solapadas pela misoginia, ou os islâmicos comumente confundidos com suas ramificações radicais e terroristas, mas sempre sem dar nomes a bois ou se referirem a situações reais, passadas ou presentes, e O Doutrinador tropeça nessa armadilha quando é possível instanciar suas personagens a personalidades brasileiras, como o presidente eleito, o juiz Moro, o ex-governador Sérgio Cabral, entre outros, amesquinhando as críticas dogmáticas em vulgares metáforas políticas.

Apesar da falha conceitual, Gustavo Bonafé e Fábio Mendonça conseguem ainda estampar algumas características do suporte original em sua direção, como se pode observar nas cenas de ação, que, por vezes, semelham instantâneos ou quadros do HQ, e na linguagem visual do filme. Kiko Pissolato capta com pouca precisão os conflitos internos da personagem, especialmente nas cenas mais dramáticas, apartando-se das devidas reações às tensões cênicas, mas concede a bruteza e o afastamento necessários ao seu rancor. A estreante Tainá Medina se sobressai um pouco mais, mas sua inexperiência é perceptível. Samuel de Assis, o Edu, é, sem dúvidas, o melhor ator em cena, em grande atuação. Fotografia, edição e arte são ótimas, mas a música sobreleva os demais, contribuindo para a contextualização no formato HQ.

O filme ainda ostenta demais similitudes com o HQ da Marvel O Justiceiro (“The Punisher”) e a comparação é fatal, quando a última não foge aos preceitos inerentes ao formato, mas O Doutrinador não deixa de ser um válido esforço nesse sentido.

PS: Em cartaz.

TRAILER

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