Stephanie Smothers, viúva, é uma youtuber, cujo canal fornece dicas para mães, tão colaborativa na escola, que a professora precisa conter seus ímpetos para dar oportunidades a outras, que não possuem interesse em ajudar, mas em fofocar. Quando seu filho Miles faz amizade com Nicky, ela conhece sua mãe, a elusiva Emily, praticamente o seu antônimo, que após interagirem algumas vezes, pede-lhe um pequeno favor que irá transformar a sua vida.
O roteiro de Jessica Sharzer, baseado no romance homônimo de Darcey Bell, trabalha muito bem as passagens de tempo em uma narrativa não linear, repleta de idas e mais idas, e voltas e mais voltas, encadeando a trama com muita habilidade. Percebe-se que há um deslocamento da realidade, constatado, inicialmente, no estereotipar suave das personagens dos pais, da professora, e das protagonistas Stephanie e Emily. Ao desenrolar da narrativa, após o desaparecimento de Emily, aquilo que assumiria, primordialmente, as formas de um mistério, ganha curvas tragicômicas, avultando a mirabolante solução de inúmeras e, cada vez, mais inacreditáveis reviravoltas, enquanto acentuando os estereótipos até o final da trama quando se transforma em uma comédia pastelão.
A direção de Paul Feig cabe ao roteiro como uma luva, alcançando o agudizar das surpreendentes reviravoltas e o aprofundar dos clichês no ritmo pretendido, até o clímax, imediatamente antes do final, além de ser muito oportuna em seus enquadramentos realçando a bizarrice por vir. Anna Kendrick explora as tensões e conflitos com grande esmero, conseguindo impor, organicamente, delicadas nuances à personagem, que vai de uma simples dona de casa, até uma mulher fatal. Blake Lively se beneficia da artificialidade da trama para construir com solidez sua personagem. Henry Golding faz um bom trabalho com Sean, marido de Emily. Os meninos Ian Ho, como Nicky, e Joshua Satine, como Miles, brilham. Vale ressaltar o irreconhecível Rupert Friend, em belíssima atuação, como o, pouco explorado, estilista Dennis Nylon; e as participações de Linda Cardellini e Jean Smart. A fotografia, música e arte se coadunam à direção nas extrapolações crescentes e a edição é muito boa.
Um tragicômico mistério é o que apresenta Um Pequeno Favor, que transita muito bem entre o suspense e a comédia, que com certeza proporcionará tanto momentos de agonia e tensão, como de risos e relaxamento. Vale assistir.
PS: Em cartaz.
TRAILER