Como todo cinéfilo que se preza, ao lermos sobre o mais novo trabalho do cineasta Yorgos Lanthimos, “The Favourite” chagando aos cinemas, mais que depressa fomos conhecer seu primeiro e único trabalho que ainda não tínhamos visto.
Eleito o melhor filme na mostra “Um Certo Olhar” no Festival de Cannes/ 2009 e tendo chegado aos cinco finalistas no Oscar do mesmo ano, é um filme impactante, sem censura e que causa tanto desconforto quanto curiosidade, na mesma medida, para entender a mitologia na qual se insere – A Caverna de Platão- ao trafegar por questões do condicionamento humano imposto, a princípio, pelos pais e, em seguida, pela sociedade que nos molda.
A primeira reação de um expectador com pouco conhecimento de cinema será classificar o roteiro como uma grande ficção, mas de certa forma, não é não! Basta lembrar-se do incrível documentário “Os Irmãos Lobo” também classificado para o Oscar 2016 e, infelizmente, de alguns regimes políticos totalitários que, através do medo e de inúmeras manipulações das informações doutrinam a população fazendo-a acreditar piamente nas mentiras a ponto de defendê-las com ardor.
Embora Yorgos não adentre em questões políticas atendo-se exclusiva e contundentemente a questão de como pais desequilibrados e imbuídos de um anormal senso de proteção educam seus filhos isolando-os das mazelas do mundo e das convenções sociais modernas através de doutrinação, regras e repressão, é cabível também não só essa reflexão como inúmeras outras.
Aliás, Yorgos, nesse seu primeiro trabalho já deixa muito clara a assinatura que viria nos trabalhos seguintes como: ""O Lagosta e "O Sacrifício do Cervo Sagrado", todos dentro de uma metalinguagem complexa, mas bastante similar permeadas de estranhezas que geram inúmeras reflexões talvez, por ele próprio evitar respostas e fazendo com que o espectador pensante se dê ao trabalho de ir juntando as peças e compondo seu individual processamento conclusivo.
Seguindo uma narrativa naturalista repleta de alegorias, (o dente canino que nos remete ao quanto ainda somos selvagens carnívoros e, por isso, enjaulados mesmo que aparentemos ser apenas filhotes tomadores de leite), “Kynodontas” nos mostra os resultados de uma educação castradora enquanto apresenta e subverte importantes questão da linguagem e seus significados e, ainda que, com muita sapiência insira o humor de forma inusitada, o ritmo lento amplifica a descarga psicológica em um grau tão alto que, certamente causará impacto e mal-estar aliados a uma ansiedade desmesurada por uma libertação, um alívio de tais situações que pode acontecer no final. Ou não...
De qualquer forma, eis um trabalho apenas para cinéfilos experientes e nada afeitos a produções de fácil digestão e esquecimento imediato já que, “Dente Canino” jamais será esquecido por quem assistiu.
Que venha “The Favourite”, agora estamos prontos!
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