No primeiro dia de faculdade, Neïla Salah, estudante de direito na universidade Paris II, chega atrasada para a aula de Pierre Mazard, um duro professor, que lhe repreende constantemente tangenciando o racismo e a xenofobia. Após a denúncia de outros alunos, ele é obrigado a preparar Neïla para um concurso anual de retórica, que a universidade não ganha há anos, de forma a amaciar o conselho disciplinar que precisará enfrentar devido aos seus comentários para Salah. O funcional roteiro de Victor Saint Macary, Yaël Langmann, Yvan Attal e Noé Debré atira e acerta no alvo de questões urgentes da atualidade, ao abordá-los de forma pragmática, sem pieguices ou vertentes políticas, em um mundo que parece se dividir entre o radicalismo dos liberais, de esquerda, e dos conservadores, de direita, que têm representatividade em papéis secundários ou figuração. E transita no dualismo entre ser duro, politicamente incorreto, talvez até incorreto, mas facilitando a construção de bases sólidas sociais, emocionais e de conhecimento que promovem o crescimento humano, e o politicamente correto, a condescendência e a anuência, vitimando, diminuindo e habituando o ser-humano a um círculo vicioso de segregações e dependências inerentes às peculiaridades das diversidades racial e sócio-cultural, que são, e sempre serão, realidade, esquecendo-se de que as diferenças é, exatamente, o potencial da humanidade – não evoluímos porque pensamos da mesma forma, pelo contrário, chegamos onde chegamos por sermos, pensarmos e agirmos distintamente, mesmo que esses potenciais suscitem conflitos de todas as sortes e intensidades. O Orgulho estabelece esse cenário e questiona, deve-se se vitimar e diminuir ou se fortalecer e crescer perante às ações intolerantes e preconceituosas oriundas da natureza humana?
A direção de Yvan Attal é excelente com enquadramentos envolventes e robustece a tese e argumentos do texto. Camélia Jordana, vencedora do César de Atriz Mais Promissora de 2018 por este papel, está em excelente atuação como Neïla Salah, idem Daniel Auteuil, como Pierre Mazzard. Destaques para Yasin Houicha, no papel de Mounir, namorado, que Salah seduz com a eloquência desenvolvida junto a Pierre, que a ampara a abater o orgulho, que a sufocaria nas dores dos preconceitos; e Jean-Baptiste Lafarge, um inglório estudante abastado de origem europeia, que, ardiloso, atrai a protagonista para o conformismo e submissão às agonias da intolerância. A fotografia é ótima, como a música, a arte e a edição.
Os embates do cotidiano, típicos das dissemelhanças humanas, quando não exacerbados, fomentam o conformismo e as dores, que aprofundam as discriminações, ou a vivacidade e o comprazimento, que elevam as forças e a razão; e a opção do sentido provém de cortinar ou descortinar conjunturas no trato de nosso orgulho. Qual o sentido de Salah perante Mazzard? Não percam. PS: Em cartaz.
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