Anos 80, quando um coronel, sua esposa e filho se mudam para uma pequeníssima cidade uruguaia perto da fronteira com o Brasil, onde o primeiro será o interventor da ditadura militar no local, dois amigos se rebelam contra o sistema, e após a prisão e desaparecimento de um deles, o outro encontra inusitada solução para o libertar. O roteiro de Inés Bortagaray e Guillermo Casanova com tom farsesco, tangenciando por vezes o fantástico, argumenta a tese de falsear a história para manobrar as massas para granjear finalidades. No crepúsculo das ditaduras sul-americanas, inclusive a uruguaia, Gregorio Esnal e Milo Striga se rebelam contra a chegada de um interventor na cidade, realizando ação para sequestrar os anões de jardim da coleção do coronel e anunciar o rapto na rádio local, na qual Milo Striga é identificado, preso e desaparece. Com o intuito de liberar o amigo, Esnal decide dar aulas de “história contemporânea” no clube da cidade, sob a perspectiva heroica dos “Striga” desde a pré-história até a descoberta da américa, influenciando seus alunos, inclusive a esposa e o filho do coronel, que acabam por se manifestar contra o sistema e próprio interventor. Apesar das muitas cenas engraçadas, dramaturgicamente, diversas passagem são hipervalorizadas, como o isolamento de Esnal após a prisão do amigo, em detrimento de outras que não são, ou pouco são, esclarecidas, como o surgimento e evolução do relacionamento entre Anita Striga e Dan Valerio, e esse desequilíbrio prejudica o ritmo dramatúrgico e a afinidade com a trama.
A direção de Guillermo Casanova, apesar de boa, poderia contribuir mais com o tom farsesco da trama, imprimindo mais agilidade ao ritmo e singularidades aos quadros, mas tem seus momentos, como a bela cena de Beatriz, Milo e Esnal na motoneta. César Troncoso, excelente, contribui muito para suprir a debilidade dramatúrgica, assim como Jenny Goldstein. Roberto Suárez está ótimo como Milo, apesar da brevidade de sua participação, e Natalia Mikeliunas e Alfonsina Carrocio imprimem boa química às irmãs Striga. O resto do grande elenco é funcional, com méritos e deméritos. A fotografia contextualiza bem a década em foco, como também cenários e figurinos. A música é excelente, mas lírica demais para uma farsa e a edição é boa.
Uma comédia interessante, acerca de técnicas políticas de manipulação de massas, contextualizada em período onde esses métodos foram largamente utilizados, quase uma fábula, é o que apresenta Guillermo Casanova com A Outra História do Mundo, candidato uruguaio a uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Vale conferir. PS: Em cartaz.
TRAILER