Baseada nos livros escritos por Edward St. Aubyn, a série produzida pelo canal Showtime que, em cada um de seus cinco episódios com uma hora de duração adapta um livro por vez, transita pela vida do personagem, Patrick Melrose, desde sua infância em 1960, no sul da França, até os anos 2000, indo da Inglaterra a Nova York apresentando momentos dramáticos e cruciais na vida do protagonista. E, talvez começando a analisá-la assim, possa parecer pouco ou mais do mesmo, mas não é! Trata-se de uma maravilha em todos os aspectos cinematográficos; uma ode ao cinema de excelência.
Ok é preciso que se diga tratar-se de uma história forte e desoladora, repleta de personagens extremamente detestáveis, abordando temas atuais através de ótica contundente e apresentada de forma tão aguda que cobra do expectador grande equilíbrio emocional para poder acompanhá-la. Muitos amam filmes, séries sobre o gênero terror e nós, aqui, ficamos com um sorriso irônico nos lábios, pois Patrick Melrose é terror elevado à potência máxima, só que sem clichês do gênero e sem apelos para o sobrenatural, mas podem apostar que exorcismos de fantasmas estão presentes de forma assustadora.
Afinal, existe algo mais maléfico e terrível e de conseqüências funestas que abuso infantil perpetrado por pais que deveriam justamente proteger uma criança inocente? Impossível! Qual seriam as conseqüências de fatos tão hediondos na psique de alguém? Que tipo de adulto esperamos surgir de uma família cujos laços parentais são disfuncionais ao extremo? Então, partindo dessas perguntas em busca das respostas, a direção e roteiro constroem uma dramaturgia poderosa com uma identidade artística espantosa cinco capítulos que transitam entre o ignóbil, o lúdico, o bizarro e o poético.
Tudo bem que uma produção deste calibre, com temas tão espinhosos, cause grandes incômodos no expectador muito por conta também do retrato da arrogante e perniciosa aristocracia inglesa em sua transição para a decadência social dotada de um ócio ululante e frieza humana ultrajante repleta de diálogos onde abundam o mais profundo sarcasmo e doses infinitas de ironias.
Sim, é um paradisíaco e elegantíssimo inferno a ser visitado para quem tem coragem de adentrar as portas da negligência infantil, da submissão da mulher e de uma vida fadada a constantes desregramentos, culpas e perdões sempre envolta na angustiante e compungente necessidade de superação.
Ainda assim, se os incríveis e complexos temas não te atraem ou te assustam, vale assistir uma das performances mais viscerais de Benedict Cumberbatch que absorve todos os danos, angústias e buscas de seu personagem de uma forma tão magnífica que fica impossível não torcer para que haja algum refrigério em sua loucura anestesiada por potentes drogas. Vale também ressaltar o fantástico trabalho de Jennifer Jason Leigh e Hugo Weaving e de todo elenco coadjuvante.
É certo que há muito, muito mais a ser dito sobre essa obra tão pouco divulgada, mas é mais profícuo assisti-la e mergulhar nas entranhas de uma narrativa sem fáceis soluções e tão pouco redenções simplificadas que compõem essa teledramaturgia que é, sem dúvida alguma, uma das mais perfeitas e bem feitas da atualidade onde, felizmente e finalmente “o amor é a melhor das coisas”...
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