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Foto do escritorFábio Ruiz

O Amante Duplo – França – 2017

Atualizado: 18 de ago. de 2020


Chloé Fortin sofre de constantes dores no abdômen. Após investigações, os médicos sugerem que a origem de seu problema é psicológica, indicando que faça terapia psicanalítica. Ao tratamento, Paul Meyer, seu terapeuta, se vê apaixonado pela paciente e o interrompe sugerindo que busque um outro profissional, deflagrando a trama principal.

O roteiro de François Ozon almeja, inepto, ser um suspense psicológico, mas tropeça em diversos pontos, tornando-se irrelevante. Para ter êxito, uma trama do gênero precisa facilitar trilhas cognitivas, que conduzam o espectador à hermenêutica, construindo sua própria dramaturgia. Mas, para tal, precisa os municiar de nexos que permitam a elaboração de suas veredas interpretativas. Em três linhas distintas – a instabilidade psicológica de Claire; a de Paul; e uma intriga real entre irmãos gêmeos –, o enredo não consegue facultar elementos coesivos que respaldem qualquer uma, tolhendo a sua empatia. No esforço de suprir as fissuras dramáticas, o argumento se minora através de cenas de nudez e sexo, sem respaldo dramatúrgico, ou seja, sem funções dedutivas, que se tornam, demasiadamente, levianas. Finalmente, a conclusão é espúria, contradizendo a premissa que leva Chloé ao tratamento psicológico, ao encontrar uma elucidação física para suas dores abdominais.

A direção, também de Ozon, empenha-se, inabilmente, a suprir as lacunas dramatúrgicas, construindo suspenses incongruentes – como, por exemplo, começar uma nova cena com uma entrada abrupta, ao invés de construir as tensões que a levasse a ser assustadora – ; seduzindo o espectador com cenas de sexo sem lastro e desprovidas de calores e sensualidades; e, desastrosamente, forcejando a impressão de um estilo já muito bem desenvolvido e estabelecido por David Cronenberg, que em 1988, dirigiu Gêmeos – Mórbida Semelhança, ao qual O Amante Duplo guarda – morbidamente? – fortes similitudes.

A atuação de Marine Vacth, a Chloé, não merece comentários. Jerémie Renier consegue estabelecer contrapontos distintos entre Paul e Louis, os gêmeos. E, Jacqueline Bisset não está afinada à personagem. O resto do elenco, em papéis irrelevantes, não compromete. Os efeitos visuais são fracos e remetem, novamente, a Cronenberg. A música, inoportuna, não adiciona, adequadamente, às tensões, e a edição é muito boa.

Um thriller psicológico carente de encadeamentos contundentes, com um final frustrante, O Amante Duplo, apesar de baseado em premissas interessantes, mas não singulares, deixa a desejar, mas pode ser uma opção para uma noite sem alternativas.

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