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Foto do escritorFábio Ruiz

Hereditário – EUA – 2018

Atualizado: 18 de ago. de 2020


Após o falecimento de sua mãe, Annie, o marido, Steve, e seus filhos, Peter e Charlie, enfrentam um conturbado e revelador luto. Ari Aster, diretor e roteirista, nos apresenta um dos mais atípicos e, possivelmente, um dos mais originais filme de terror das últimas décadas. O roteiro, nitidamente, é dividido em dois atos, separados na aparição da personagem Joan, vivida por Ann Dowd. O primeiro enfoca o terror nas agudas tensões familiares manifestadas após a morte de sua matriarca, e os graves fatos decorrentes dessas. O clima é muito aflitivo, as consequências ainda mais, exacerbadas na intensa morbidez do belíssimo trabalho artístico da personagem Annie, que cria miniaturas de cenários de suas realidades correntes. A direção de Ari é muito perspicaz amplificando, inteligentemente, as angústias situacionais, que, em outra conjuntura, poderiam parecer pouco relevantes ou até inócuas. Realce para a cena de Peter, ao volante, após grave intercorrência na estrada.

Já no segundo ato, o roteiro, corajosamente, abre leques hermenêuticos em duas principais vertentes, uma, metafísica ou mística, a outra, racional ou científica, como uma ruptura rizomática, deixando ao espectador a escolha do caminho a acreditar, como se andasse pelo jardim das veredas que se bifurcam de Borges. As cenas tornam-se cada vez mais bizarras e o terror, propriamente dito, emerge, avivando o medo e a inquietação. A direção torna-se, nesse momento, muito relevante, ao ilustrar situações dúbias, como a confusão entre objetos na penumbra e uma verdadeira aparição e ao criar pavor e pânico sem destruir a factibilidade das veredas metafísicas ou racionais, que coexistem é o final do filme, sem que o roteiro decida por uma ou por outra, fato, que deixará muitos insatisfeitos pela não conclusão ou não explicação do “racional” por trás de tantas aberrações, como se fosse mais fácil digerir as coesões de Jason, em Sexta-Feira 13, de Freddy Krueger em A Hora do Pesadelo ou de Michael Myers em Halloween, apenas por serem explícitas. Talvez, a intangibilidade na resolução e na explicação da razão sejam os principais ativos de Hereditariedade.

Toni Collette se supera em brilhante atuação, transitando em diversas psiquês com muita habilidade. Alex Wolff adentra outro patamar artístico com seu belíssimo trabalho. Gabriel Byrne está excelente no principal papel não afetado pela hereditariedade, a menina Milly Shapiro é uma assustadora surpresa, e Ann Dowd contribui demasiadamente com os terrores cênicos. A fotografia é excepcional, a edição, idem e a música e efeitos sonoros, macabros. Vale ressaltar o magnífico trabalho de arte e efeitos visuais. Um filme de terror único e corajoso, que apesar de, formalmente ou explicitamente, não optar entre o místico e o científico, aponta em uma direção através de um elemento primordial, o seu título. Imperdível.

PS: Em cartaz

TRAILER

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