O encontro de Misaki, criadora de áudio-descrições, e Nakamori, um fotógrafo perdendo a visão, os impulsiona a reflexões sobre perdas e a humanidade em torno dessas.
O roteiro apresenta uma narrativa lírica sobre as relações de perda em diversas perspectivas, tendo como pano de fundo a adaptação áudio-descritiva, para deficientes visuais, de um filme que versa sobre o tema. Em sessões que reúnem funcionários da empresa criando a áudio-descrição e deficientes visuais, aborda-se as perdas inerentes à hermenêutica, aguçadas pelas diferentes percepções sensoriais e suas capacidades; o filme, objeto da interpretação, as perdas do parceiro e do amor; e a trama principal, a perda da visão, da sanidade, e de si mesmo, engendrando por escolhas que definem as reações às privações impostas pela vida, que podem, ao mesmo tempo, ceifar ou escambar caminhos e destinos.
A direção é oportuna, apropriando-se do excesso de luz, da escuridão, do desfoque e de extratos restritos como elementos supressores da visão. Masatoshi Nagase, como Nakamori, cria um deficiente visual extremamente verossímil e uma personagem rica e complexa, Ayame Misaki, a Misaki, desenvolve muito bem as facetas emocionais da personagem, e o resto do elenco faz bonito. A fotografia potencializa as intenções da diretora, revelando e cortinando através do excesso ou ausência bem medidos da luz. A música gira em torno do piano, acentuando o lirismo do roteiro e acompanhando o ritmo da trama. A edição e arte são competentes.
Visões, sob perspectiva oriental, das perdas inerentes ao viver é o que Esplendor ostenta com o ardor, ao mesmo tempo, contido e profundo, inerente da cultura japonesa. Vale conferir.
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