Tendo recebido o prêmio de Melhor direção no Sundance Film Festival 2017, o diretor e roteirista Francis Lee, em tempos de deslumbres com o colorido "Call Me By Your Name",apresenta com sucesso sua “versão” sobre o primeiro amor de forma incrivelmente mais contundente e menos floreada por conta do foco deixar a abastada casta do primeiro e centrar-se numa classe humilde e trabalhadora do interior da Inglaterra, fazendo um trabalho muito mais profundo e complexo que o atual “queridinho” do público e critica.
E é justamente por não trilhar um formato comercial investindo num ritmo mais lento de narrativa que a estória abre espaço para situações mais densas e tensas permitindo a inserção de personagens mais ricos e profundos com desempenhos naturalistas realmente fortes e impressionantes em um roteiro não romantizado que não perde tempo em mergulhar logo nos cernes de questões como o embrutecimento humano promovido pela solidão, na rejeição do amor por medo e desconhecimento dele e, nas graduais e sutis transformações que a aceitação da emotividade pode acarretar.
Inteligentemente, direção e roteiro acertam em cheio na retratação do par homossexual sem enfatizar por demais a questão do relacionamento, distribuído a estória em pequenos fragmentos de delicadezas que inserem, na vida animal, belas e potentes alegorias sobre a vida, a beleza da natureza e o amor universal sem apelar, em momento algum, para sentimentalismos “bonitinhos” e, tão pouco, para a frigida assepsia cênica; pelo contrário, pois é no “sujo”, no frio, no limo e no viscoso que pulsa a vida dos protagonistas e sua estória.
Assim, “God's Own Country” torna-se um trabalho impactante por sua ótica direta e muitas das vezes afiada, fazendo um estudo magnífico sobre as fragilidades humanas provocando reflexões sobre a potência redentora do amor... mesmo em terreno árido.
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