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Foto do escritorFábio Ruiz

Roda Gigante - EUA – 2017

Atualizado: 18 de ago. de 2020


“Entra, Carolina.”, uma rubrica de uma peça de teatro, seja talvez, a fala mais importante do novo filme de Woody Allen, que, como sempre, assina o roteiro e a direção. Entra, Carolina, marcada para morrer por seu mafioso ex-marido e filha de Humpty, marido de Ginny, retorna ao lar em busca de refúgio, deflagrando conflitos ao chamar atenção de Mickey, um salva-vidas aspirante a dramaturgo e pivô da trama.

O roteiro parece simplório, vista a sinopse. Contudo, sua profundidade reside mais na forma do que no conteúdo. O espectador atento perceberá que a personagem Mickey é multifacetada, alternando entre personagem, narrador-personagem e narrador, onipotente e onipresente – uma única fala entrega a última função, além da estética fílmica que confere a atmosfera teatral e corrobora a tese. Roda Gigante é uma colossal homenagem ao teatro, tanto explicita, quando referencia e reverencia algumas vezes Eugene O’Neill, quanto implícita ao transpirar Tenessee Williams, tanto na personagem Ginny, quanto na brilhante atuação de Kate Winslet, sua melhor até agora, que tornam inevitável a visão de Blanche Dubois, a protagonista de Um Bonde Chamado Desejo. O mesmo acontece com Carolina, de Juno Temple, também excelente, que nos remete à Stella, e Humpty, na melhor atuação de Jim Belushi, ao Mitch. Justin Timberlake, em personagem pivô, não alcança a profundidade exigida e a comparação a Stanley não acontece. A direção de Woody é precisa, quase milimétrica, vide alguns movimentos de câmera que transformam, completa e propositalmente, a atmosfera cênica em segundos. A fotografia e a iluminação, afinadíssimas à direção, respaldam, perfeita e harmonicamente, o ambiente teatral. A música é eficaz e eficiente, como também, a edição, e a arte é magnífica.

Woody Allen, mais uma vez, acerta a mão, fazendo o que sabe de melhor, a transposição literária à linguagem cinematográfica. Quem espera uma trama intricada, pode se decepcionar, mas, como diz o ditado, quem vê cara não vê coração. Não perca.

TRAILER



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