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Foto do escritorFábio Ruiz

Lucky - EUA – 2017

Atualizado: 4 de ago. de 2020


Lucky é um filme peculiar. Diferenciado da maioria esmagadora do que é lançado no mercado, pois pondera sobre a terceira idade, não qualquer terceira idade, mas a daqueles cujo único horizonte é a própria morte. Lucky examina o incômodo, o indesejável, o temível ciclo do desapego à vida. Lucky é um solitário veterano da segunda guerra mundial que mora em uma pequena cidade dos EUA, onde todos se conhecem. Revive, sistematicamente, sua rotina, até que, um dia, cai em casa, a partir de quando experimenta refletir com seus amigos da cidade, a maioria em sua faixa etária, questões filosóficas sobre a vida e a morte, e vivenciar novas aventuras com seus concidadãos. Da polêmica sobre o testamento de Howard, que deixa tudo para Roosevelt, seu cágado desaparecido, ao uso de maconha e a cantar em espanhol em uma festa infantil, Lucky ingressa no inevitável processo de despedida rumo ao vazio. O roteiro é lindamente escrito. Sem tanger o piegas uma única vez, a trama emociona e nos força ao paralelo entre o que vemos e ouvimos na sala de projeção e nossas próprias vidas. O uso do telefone vermelho como elemento dramatúrgico é genial, nunca se saberá quem era o receptor do locutor Lucky, mas a cor do telefone, que destoa de tudo em sua casa, com certeza é uma pista. O filme começa com: Harry Dean Stanton é Lucky, e não poderia haver maior homenagem, sua atuação é estelar, única e inesquecível, uma obra de arte. O elenco, composto em sua maioria de atores na terceira idade, conta com David Linch, como Howard, Barry Shabaka Henley, como Joe, Ed Begley Jr., como Dr. Kneedler, Beth Grant, excelente como Elaine, Tom Skerritt, entre outros. Um elenco que muitos não lembrarão por seus nomes, mas no minuto que os virem na tela lembrarão de tê-los visto em tantos, tantos filmes. A estreia na direção do também “quando o vi lembrei quem ele é” John Carroll Lynch é excelente, o cuidado em suas escolhas é notório em todas as cenas, percebe-se, nitidamente, o carinho ao trabalho. A fotografia é belíssima, a edição excelente, a música muito bem contextualizada e a arte muito bem realizada. Lucky é uma declaração de amor àqueles cujas vidas já foram vividas em sua maior parte, a quem resta somente a espera agoniante e assustadora da morte. Harry Dean Stanton faleceu, aos 91 anos, catorze dias antes da estreia em grande circuito nos EUA, deixando para o público essa obra-prima. Não vejo melhor maneira de se partir. Harry Dean Stanton: aplausos de pé. Imperdível.

TRAILER

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