O Representante do Camboja no Oscar 2018, dirigido, produzido e roteirizado por Angelina Jolie, finalmente entra na grade da Netflix para nos contar, baseado em fatos reais, sobre o genocídio dos cambojanos ocorrido entre 1975 e 1978.
Angelina que já vinha de outras experiências como diretora, a lembrar do monótono “A Beira Mar” (2015) e do ótimo “Invencível” (2014), apresenta, desta vez, um trabalho tecnicamente muito bem feito com alternância entre os planos abertos e predominância dos closes que ajudam em muito o expectador ver através dos olhos da expressiva protagonista mirim, todas suas angústias e aflições realçadas pelo ótimo trabalho de fotografia. Inteligentemente também, não abusa da boa trilha sonora para criar um clima, deixando que o enredo, com altíssimo peso dramático envolto em densa atmosfera, construa sozinho o arco trágico.
A feliz opção de apresentar esse tenebroso momento pelos olhos inocentes de uma criança traz para a história um tom pungente e o roteiro segue apostando muito mais no poder da melancolia dramática das imagens que no reforço das palavras (diálogos), propriamente ditas. Outra abordagem acertada está no fato de não haver nenhum mergulho profundo na amplitude dos personagens e sim, na acertada panorâmica detalhada dos dramas subjacentes sem apelar para cenas de violência sanguinária.
Assim, #FirstTheyKilledMyFather, rodado em locações no próprio Camboja e com elenco local, ainda que assemelhe-se bastante com a premissa do incrível “Império do Sol” (1987), peca ligeiramente pelo ritmo lento em suas duas horas e dezessete minutos de projeção, exigindo alguma “paciência” da plateia e até uma certa dose de credibilidade ou boa vontade para com a cena do reencontro dos irmãos, algo semelhante a achar uma agulha no palheiro.
No mais, por trazer à baila um momento de importância histórica pouco conhecido sobre a estupidez dos regimes totalitários ou da imbecilidade humana e, por sua primorosa concepção técnica, a cotação fica em:
TRAILER