Lágrimas Sobre o Mississípi – EUA-2017
- Cardoso Júnior
- 25 de nov. de 2017
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de ago. de 2020

A Netflix investe a cada dia na produção e na aquisição filmes com real teor cinematográfico voltados para uma platéia que não se satisfaz com entretenimentos pueris. E este é e foi o caso do espetacular Mudbound, cinema na acepção mais asséptica da palavra. Aplaudidíssimo no Festival de Sundance 2017, o segundo filme da diretora e roteirista Dee Rees que já nos tinha surpreendido com o ótimo “Pariah” (2011), é um drama portentoso, em todos os sentidos, que nos conta com muita propriedade e a partir da inspiração no livro da escritora Hillary Jordan, sobre racismo, preconceitos declarados, amor familiar, sobre o sonho de possuir um pedaço de terra em seu nome, sobre a submissão das mulheres dentro dos casamentos e, também, traumas de guerra. Parece muita coisa, não? E é sim! A questão é que, a fragmentação do roteiro que insere narrativas na primeira pessoa de vários e profundos personagens é muito, mas muito bem costurada permitindo acompanhar a ligadura do arco dramático de cada um deles com o enredo central com bastante facilidade e interesse crescente sem que se perca, em nenhum momento a continuidade, apesar dos fatos alternarem-se entre períodos históricos com bruscas mas interessantíssimas mudanças de cenários; não importa, o fulcro é um só. Somando-se a plêiade de personagens profundos com a força coercitiva do roteiro, a produção ainda nos brinda com uma reconstituição primorosa da década de 40 em todos os aspectos, seja na belíssima e realista fotografia monocolor que ressalta os cenários e o clima, seja nos figurinos ou mesmo no trabalho de edição mais que espetacular amparando emocionantes e marcantes performances de todo o elenco que ainda nos brinda com uma Carey Mulligan, mais uma vez, absorvendo com magnitude uma personagem que entra para a história do cinema. Ainda que longo em seus 130 minutos de projeção – tempo que não se sente-, “#Mudbound” escapa com galhardia da armadilha de ser apenas mais outro drama épico pela forte e perfeita transmissão de tantas emoções e pela imediata conexão que estabelece com o público universal ávido por um cinema de altíssima qualidade com conteúdo exponencial. Parabéns Netflix por esse resgate ao cinema de verdade, com todas as características que tornou a sétima arte algo respeitável, memorável e digna de ser aplaudida de pé!

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