Na arte não existem paradigmas que não possam ser quebrados e, quando menos esperamos, somos surpreendidos por rupturas.
Atômica, de David Leitch, baseado na novela gráfica “The Codest City” de Antony Johnston e Sam Hart, e estrelado por Charlize Theron, é uma dessas gratificantes surpresas que rompem padrões estabelecidos. E, Lorraine Broughton, personagem de Charlize, não é mais uma espiã, não é mais uma mera coadjuvante em uma trama predominantemente masculina, mas, sim, o foco, a protagonista de uma narrativa feminina que descontrói, por completo, o modelo James Bond, o 007, sem tropeçar ou sucumbir aos apelos e clichês feministas.
A trama se passa em Berlim, oriental e ocidental, às vésperas da queda do muro, em flashback, durante o interrogatório de Lorraine, espiã do MI6, por seus superiores e pela CIA, dez dias após o assassinato de James Gascoigne, seu companheiro de agência, entre outras coisas, para onde fora enviada para investigar a sua morte, auxiliada por seu contato no local, o também espião David Percival, interpretado por James McAvoy, e para recuperar a lista de agentes ativos na União Soviética roubada de Gascoigne.
Nesses dez dias, Lorraine desvendará o mistério do assassinato de Gascoigne, recuperará a lista perdida, se envolverá, profissional e romanticamente, com a agente francesa Delphine Lasalle, interpretada por Sophia Boutella, e desmascarará o agente duplo Satchel, entre excelentes cenas de ação mediadas por tramas de espionagem e contra-espionagem, que somente serão surpreendentemente desvendadas em sua cena final. A adrenalina começa logo em sua chegada à Berlin, quando é recepcionada por agentes russos, e só termina um pouco antes do filme propriamente dito.
O filme foge aos estereótipos. Delphine Lasalle, além passar longe do padrão “Bond girl”, tem participação relevante do desvelamento da trama. Tanto essa, como Lorraine transitam entre a sensualidade, a feminilidade, a homossexualidade, o profissionalismo e a truculência física ao longo de suas trajetórias sem tropeçar em qualquer padrão ou modelo, sem defender bandeiras ou levantar estandartes.
Charlize Theron está excelente como Lorraine, impressiona como controla e expões suas emoções até em cenas submersas. James McAvoy faz um “vilão” tão competente quanto o heroísmo de sua parceira, Sofia Boutella está bem apesar de sua pequena e controversa experiência em filmes como A Múmia. Vale ressaltar as pequenas – em tamanho – participações de Bill Skarsgård, Til Schweiger, Eddie Marsan e Sam Hargrave, esse último também coordenador de dublês, além das atuações de Toby Jones e John Goodman.
A direção de David Leitch merece muita atenção. Esse é o primeiro grande filme de Leitch, experiente coordenador de dublês e assistente de direção, que é firme, criativo e competente com a sua batuta.
Atômica é um filme para todas as audiências, tem apelo para todos: uma trama intricada e estimulante, cenas de ação impressionantes, sensualidade, elenco competente, arte e fotografia belíssimas, uma trilha sonora fabulosa e muito bem encaixada à trama, e, se tudo isso não convencer o espectador, vale pela reconstrução de um momento único na história mundial.
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PS: Em cartaz!