O trabalho enviado pela Argentina para concorrer ao Oscar 2017 e que só agora aporta nos cinemas Brasileiros, é no mínimo, instigante e intrigante. A jornada de uma celebridade mundial que retorna às suas humildes origens para reencontrar seus fantasmas/ personagens do passado, gera um plot repleto de desconfortos tão simplesmente narrados dentro da banalidade de um cotidiano interiorano que pegam o espectador de surpresa provocando inúmeros momentos que beiram o surreal com doses certas de um humor ácido e provocativo. El Cidadano Ilustre, com sua câmera que busca sempre o ângulo documental é mais que um simples estudo de personagem, pois através de um inteligentíssimo viés narrativo vai pontuando as idiossincrasias de uma sociedade moderna – da monarquia a plebe, das metrópoles à roça - fazendo uma critica suave, mas não menos analítica da sociedade consumista, do culto a fama a qualquer preço e do quanto de hipocrisia é necessário na manutenção do Status Quo. Com roteiro pontual que parte sempre de situações de máxima inocência e simplicidade, repleto de personagens simbólicos, excelente direção de atores e diálogos inteligentes em suas quase duas horas divididas em capítulos, escapa de todas as armadilhas de gênero, mas arrasta o espectador para sua bem arquitetada armadilha de forma tão sutil e natural que só é possível percebê-la no derradeiro ato. Satírico, esperto e honesto, “#OCidadãoIlustre” transita com grande expertise (e leva junto o espectador), por situações inusitadas, muito mistério e até crime sempre deixando em aberto a questão do que é ficcional ou real, espelhando uma sociedade tão atual quanto caricatural, pois toda verdade é fruto de uma interpretação. Qual será a sua?
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