Como vocês se sentiriam após uma vida inteira de trabalho e de contribuições previdenciárias, caso fossem acometidos por uma “doença” que os impedisse de continuar trabalhando e tivessem que lutar contra o sistema para conseguir ser atendido satisfatoriamente a receber os benefícios que fez e faz jus? Revoltados, angustiados, injustiçados, dispostos a lutar contra a burocracia paralisante?
Com este plot que parece localizado, mas é universal, o vencedor da palma de ouro em Cannes 2016, e indicado pela Inglaterra ao Oscar 2017, (Mas tinha uma traqui-Tanna no caminho), é um trabalho tão simples quanto realista, tocante e contundente que merece mais que uma espiada, merece uma apreciada com direito a inúmeras reflexões.
Acompanhar o momento de vida do analfabeto digital, mas muito, muito carismático Daniel, em sua peregrinação por salas, gabinetes, formulários e conversas com insensíveis funcionários do sistema, é algo que nos cala fundo e vai criando uma sensação de angústia e revolta ao mesmo tempo em que torcemos para que nosso herói anônimo obtenha, em algum momento, uma solução para a penúria que se instala em sua vida.
Magistralmente interpretado por Dave Johns, o realista roteiro ainda nos fala sobre a solidariedade humana diante das adversidades sociais, sem perder a seriedade nos textos e diálogos configurando-se em uma mais que bem arranjada mistura de drama com urgente e necessária critica social.
Duas ótimas subtramas ainda recortam a tragédia central reforçando a questão dos vínculos entre os oprimidos do sistema sem transformar a obra em nenhum dramalhão e sim, em um trabalho realista tão honesto quanto incômodo não apenas para o protagonista e seus pares, mas para todos nós que pagamos impostos para um país capenga quando se trata da contrapartida esperada e nem sempre alcançada.
I’m Daniel Blake é um trabalho obrigatório que agradará todos os públicos.
OBS: Em cartaz só nos bons cinemas nacionais.
TRAILER