Dificilmente uma adaptação cinematográfica de uma famosa peça de teatro logra êxito de público ao ser transposta para as telonas, mas há casos em que a mudança de plataforma também funciona muito bem como é o caso de “Carnage: O Deus da Carnificina” (2011), dirigida por Roman Polanski, e agora com “#Fences”.
Por certo, esse tipo de trabalho não busca um público mais afeito a superficialidades podendo causar certo desconforto com a cadência, com o ritmo da prosa e, principalmente, com o texto, onde a dramaturgia cênica se ampara para construir não só a narrativa como desenhar personagens e imergir em seus conflitos existenciais.
Mas, quando e se, você se adaptar ao estilo onde a força da palavra e o âmago do verbo conduzem às profundidades humanas, poderá viver uma experiência fascinante principalmente pelas performances que o gênero pode conter e trazer à tona com toda a força que teria em um palco físico.
E é o que acontece no contundente “Fences” ao nos levar para década de 1950, transitando sobre a vivência negra nos Estados Unidos dentro de uma família disfuncional chefiada e tangida por um homem amargo e machista ao extremo.
Ok, aqui é necessário esquecer de explosões, ações, perseguições e efeitos especiais mirabolantes, mas todos estes “conceitos” existem até em maiores profundidades ainda que as ações fiquem contidas em espaço bem mais exíguo, confinadas a uma sala, uma cozinha, um quarto, um pedaço de rua e um pátio externo. Assim, com a limitação de recursos, a câmera e a direção exploram e dão aos atores a oportunidade de brilhar, brilhar e brilhar de forma assustadora no ápice de seus talentos.
Este é o caso não só de Denzel Washington e Viola Davis (assegurada finalmente como melhor atriz coadjuvante no Oscar 2017), mas de todo o elenco de suporte que encontra muito espaço para desenvolver cada nuance de seus personagens.
A direção de Washington é mais que sólida, ainda que não apresente nada de excepcional e, cinematograficamente, explora por demais o visual claustrofóbico mantendo uma atmosfera que dificulta a empatia com os personagens, buscando o mesmo impacto que causaria em cena fechada, algo que nem sempre funciona.
Ainda que não seja uma obra perfeita, “Cercas” é uma tragédia portentosa que possibilita atuações magníficas e reflexões sobre as cercas que construímos em nossas vidas.
Seriam elas para impedir intrusos ou para nos enclausurar ?
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