Trazer para o cinema a vida do maior músico de jazz de todos os tempos, por certo é uma homenagem há muito devida, além de ser tarefa mais que árdua. Qual das muitas facetas desse músico atemporal deveriam ser abordadas? Essa, por certo, foi uma das centenas de muitas perguntas que devem ter assomado à mente de Don Cheadle quando decidiu, não só interpretá-lo como também dirigir e co-escrever o roteiro deste longa. Don, em nossa opinião, é um dos atores mais completos de Hollywood e sua aventura na direção, retratando uma lenda, é algo que nos deixou a perseguir este trabalho com muita curiosidade e expectativas. Situado em 1980, justo no período que o biografado calava-se artisticamente e entregava-se às drogas, foi feita uma tentativa de originalidade em uma premissa ficcional que, simplesmente não deu certo. Com tanto material pra ser explorado sobre uma “vida”, optar por mostrar o retratado como um tipo de gângster do submundo aventurando-se em perseguições de carros e tiroteios é sim, um tiro no pé por nada acrescentar de relevante e ainda por serem sequências desinteressantes. Ok, ok que o batido recurso de flashbacks trás alguns bons momentos da vida de Miles Davis, mas ao priorizar seu relacionamento amoroso, seu casamento com sua musa, Frances Taylor, tudo se esvai novamente. “Milhas à frente”, um inteligente trocadilho para o título, esquece de mostrar para o mundo o lado intelectual de um músico que dedicou, desde a infância, anos de estudo de música para chegar a dominar trompete, bateria, piano e contrabaixo. Que látima! Ah, sim ainda tem Ewan McGregor servindo de escada cênica para Cheadle e nada mais que isso. No mais, a direção técnica é competente e o desempenho de Don Cheadle é impressionante ao captar a alma, a paixão, a loucura e as paranoias do grande trompetista e, por certo, obterá indicação ao Oscar 2017. O grande erro de "Miles Ahead” está no ficcional roteiro repleto de flash-backs que o torna além de confuso, um mergulho raso na vida da lenda tornando-se um trabalho muito difícil de ser admirado no conjunto. Para quem como nós, ama biografias de grandes músicos que ainda ouvimos nos dias atuais, recomendamos o já comentado aqui "Love & Mercy", a cinebiografia de Brian Wilson; pelo menos é mais fiel e condizente com as genialidades e os problemas que elas trazem.
TRAILER
Miles Davis ainda merece uma biografia a sua altura.