Nessa, mais uma adaptação literária, sobre uma personagem que o cinema simplesmente adora, Maria Antonieta, encontraremos um ponto de vista diferente dos usuais para observar os 4 dias que antecederam a revolução Francesa. E isso é no mínimo muito interessante de se acompanhar por inúmeros motivos.
Ao desviar-se totalmente da linha narrativa de “Marie Antoinette” de Sofia Coppola, retirando peso e foco das questões políticas e dos salões abastados para ater-se ao microcosmo dos subterrâneos do Palácio de Versailles com sua fauna dividida entre uma corte decrépita, parasitária e distanciada da realidade Parisiense e, do submundo dos criados que serviam a realeza,” Les Adieux A La Reine”, transita pelas idiossincrasias em roteiro muito peculiar.
Primoroso no que concerne à fotografia que utiliza-se da luz para pontuar/ separar cenários deslumbrantes de obscuros corredores e, não menos requintados figurinos, eis um trabalho que respeita com estrema elegância o conceito de filme de época, respaldado por interpretações concisas de Léa Seydoux e Diane Kruger.
A sagacidade do roteiro ao deslocar o epicentro dramático para os olhos da criada protagonizada por Seydoux, é um grande acerto principalmente pela interpretação angustiada e introspectiva que leva o espectador a acompanhar e entender o mosaico e as dicotomias da época.
Enquanto isso, Diane Kruger, compõe sua rainha de forma muito diferente da que vimos com a frívola personagem de Kirsten Dunst, tornando-a mais humana e complexa com direito a exibir a vulnerabilidade de sua posição, seus medos, inseguranças e até camadas de pequenas meiguices e grandes maldades.
A pegada de inserir e creditar um avassalador amor lésbico à rainha, embora bem amparada por boatos da época, não acrescenta muito à história e, embora não a comprometa severamente, acaba produzindo discretas oscilações no ritmo e no andamento.
A inteligente / inovadora ótica do roteiro ao concentrar o conturbado momento na grandeza do universo feminino com apagadíssimas intervenções masculinas, sem omitir as intrigas palacianas existentes nesses cenários imperialistas, o contraste do luxo ostensivo com a simplicidade, faz de 'Adeus, Minha Rainha' um trabalho que, ainda que exclua a catarse, coloque uma lupa sobre a história e ainda consiga ser cinematograficamente original e belo.
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